São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES México, mais latino-americano que nunca
CECILIA SOTO
Antes do Nafta, as exportações para os Estados Unidos já representavam 75% de todo o nosso comércio. Com o Nafta, esta relação representa agora 90%; seria infantil negar o peso econômico dela. Mas, agora, trata-se de uma relação comercial regida por disciplinas comerciais acordadas bilateralmente e em vários aspectos da economia, de uma interdependência dos dois países. Nem querendo o México pode deixar de ser latino-americano: somos o maior país de fala hispânica no mundo, com uma cultura milenar, que sobreviveu, vitoriosa e enriquecida, a choques culturais, conquistas e invasões, que não se podem comparar com o Nafta. O crescimento do comércio não é um fim em si mesmo. Tem sido o instrumento para garantir maior estabilidade e melhores condições para resolver as graves carências sociais que ainda existem em meu país. O novo fortalecimento econômico do México lhe permitiu propor, com êxito, uma estratégia econômica entre a região sul do México, a menos desenvolvida e na qual habitam 25 milhões de pessoas, e a América Central, onde habitam 35 milhões; proposta conhecida como Plano Puebla Panamá. Mas o resultado mais importante da negociação do Nafta não se pode ver nem no crescimento do PIB mexicano nem no grande aumento das exportações. O resultado mais transcendente é o fato de ter sido deixada para atrás a síndrome da vítima, a "vitimologia", uma espécie de religião atrás da qual muitos nos refugiávamos para desculpar nossos problemas pela vizinhança com os Estados Unidos. Com certeza, trata-se de uma vizinhança complexa, mas, em vez de ver somente problemas, detectamos também oportunidades. A vocação latino-americana do México se reafirma pela quantidade de acordos comerciais que desenvolveu com quase todos os países da América Latina, pela iniciativa do Plano Puebla Panamá, pelos acordos com o Brasil e o Mercosul, assinados nesta viagem, e pela crescente coordenação da diplomacia mexicana com a diplomacia de países como o Brasil, para as melhores causas. Nossa intensa relação bilateral com os Estados Unidos e o Canadá fortalece a rica cultura milenar dos mexicanos e converte os milhões de compatriotas que moram ali, ou que vão e vêm ano após ano, em embaixadores de nossa cultura. De fato, a fronteira cultural da América Latina se move em direção ao norte. Em uma coisa, sim, tem razão Clóvis Rossi: na façanha maravilhosa da seleção brasileira, ao ganhar o penta campeonato. Como na copa de 1970, os mexicanos, ao sul e ao norte do rio Bravo, vibramos com o Brasil, desfrutamos de cada um dos passes de Rivaldo e enlouquecemos de alegria com os gols de Ronaldo. Mil felicitações! Cecilia Soto é embaixadora do México no Brasil. Foi deputada federal (1991-93) e candidata à Presidência da República no México, pelo Partido do Trabalho, em 1994. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ricardo Abramovay: As finanças ocultas dos pobres Índice |
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