São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Rádio Nacional

RIO DE JANEIRO - É bom quando se pode elogiar alguém ou alguma coisa, até mesmo o governo. Bem verdade que se trata de um departamento menor, que não integra a prateleira nobre dos problemas nacionais. Mas vale pelo sentido de integração popular que nos dá cara de povo.
Li nas folhas que o presidente Lula vai ressuscitar a Rádio Nacional, valor afetivo do povo brasileiro, que cumpriu um papel importante nos anos em que ainda não havia TV nem internet, sendo a principal fonte de informações, entretenimento, serviço público e celeiro de nossa arte popular, seja na música, no esporte, na radionovela, nas reportagens e campanhas de interesse público.
Nos anos 40 e até o final dos anos 50, mesmo com o advento das primeiras emissoras de TV, a Rádio Nacional foi a âncora que nos amarrava no Brasil e no mundo. Mal comparando, representava para nós o que a BBC representava para a Inglaterra. Não se podia ir dormir sem antes ouvir as batidas do Big Ben, provando ao mundo que Londres continuava de pé apesar dos bombardeios diários dos aviões nazistas.
Longe dos acontecimentos, nossa Rádio Nacional era menos dramática, mas era bom sabermos que Francisco Alves cantava "na carícia de um beijo que ficou no desejo", que Lauro Borges anunciava o novo ministério do Japão (Te meto Amão Nacara, Catuca Que Kai Asaia), que Dalva de Oliveira fazia aqueles gorjeios deliciosamente cafonas, que o Sombra garantia que nunca se sabe o mal que se esconde no coração dos homens.
Pode parecer que com a TV tudo isso tenha se desativado. Não é verdade. A audiência de rádio continua em alta, Xexeo e eu mantemos um programa na CBN que atinge todo o território nacional, é impressionante o retorno, somos abordados nas ruas, nos aviões, nos táxis, gente concordando ou discordando de nós.
Reinaugurando a Rádio Nacional, o governo faz o Brasil voltar a ser Brasil.


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