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CARLOS HEITOR CONY
Rádio Nacional
RIO DE JANEIRO - É bom quando se pode elogiar alguém ou alguma coisa, até mesmo o governo. Bem verdade que se trata de um departamento
menor, que não integra a prateleira
nobre dos problemas nacionais. Mas
vale pelo sentido de integração popular que nos dá cara de povo.
Li nas folhas que o presidente Lula
vai ressuscitar a Rádio Nacional, valor afetivo do povo brasileiro, que
cumpriu um papel importante nos
anos em que ainda não havia TV
nem internet, sendo a principal fonte
de informações, entretenimento, serviço público e celeiro de nossa arte
popular, seja na música, no esporte,
na radionovela, nas reportagens e
campanhas de interesse público.
Nos anos 40 e até o final dos anos
50, mesmo com o advento das primeiras emissoras de TV, a Rádio Nacional foi a âncora que nos amarrava
no Brasil e no mundo. Mal comparando, representava para nós o que a
BBC representava para a Inglaterra.
Não se podia ir dormir sem antes ouvir as batidas do Big Ben, provando
ao mundo que Londres continuava
de pé apesar dos bombardeios diários
dos aviões nazistas.
Longe dos acontecimentos, nossa
Rádio Nacional era menos dramática, mas era bom sabermos que Francisco Alves cantava "na carícia de um
beijo que ficou no desejo", que Lauro
Borges anunciava o novo ministério
do Japão (Te meto Amão Nacara,
Catuca Que Kai Asaia), que Dalva de
Oliveira fazia aqueles gorjeios deliciosamente cafonas, que o Sombra
garantia que nunca se sabe o mal que
se esconde no coração dos homens.
Pode parecer que com a TV tudo isso tenha se desativado. Não é verdade. A audiência de rádio continua
em alta, Xexeo e eu mantemos um
programa na CBN que atinge todo o
território nacional, é impressionante
o retorno, somos abordados nas ruas,
nos aviões, nos táxis, gente concordando ou discordando de nós.
Reinaugurando a Rádio Nacional,
o governo faz o Brasil voltar a ser
Brasil.
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