São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2004

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TENDÊNCIAS / DEBATES

Sobre o homossexualismo

AMAURY CASTANHO


A igreja que sirvo há mais de 50 anos cumpre o seu dever desaprovando o comportamento homossexual

Há anos venho lendo tudo o que se publica sobre homossexualismo. São temas sobre os quais tenho refletido, não só como bispo da Igreja Católica, mas como cidadão. Acompanhei todo o farto noticiário sobre a Parada do Orgulho Gay em São Paulo e no Rio de Janeiro. Antes de tudo, é necessário distinguir, na referida parada em São Paulo, os homossexuais dos que estiveram na avenida Paulista apenas como interessados no espetáculo carnavalesco, prestigiado por certas autoridades.
Em recente artigo publicado na Folha ("Por que celebrar o orgulho gay?", João S. Trevisan, pág. A3, 28/6), certo articulista não só congratula-se com a maior parada gay do mundo (sic), como se isso honrasse a cidade de São Paulo e o Brasil, mas agride injustamente o papa João Paulo 2º, tido por jornalistas como L. Bernstein e M. Politi, além de políticos como Mikhail Gorbatchov, como a mais importante personalidade do século 20. O articulista certamente não leu nenhuma das alocuções do papa sobre o homossexualismo, desconhecendo as sempre respeitosas referências que faz aos homossexuais, condenando a violência contra os mesmos.
A igreja que sirvo há mais de 50 anos cumpre o seu dever desaprovando o comportamento homossexual. Ela o faz tanto em defesa da dignidade humana, quanto em atenção à revelação divina. Proclamando o casamento e a família como a legítima união entre o homem e a mulher, comunidade de amor aberta ao dom da vida, presta um grande serviço à sociedade e se mantém fiel a numerosos textos do Antigo e do Novo Testamento, entre os quais o da epístola do apóstolo Paulo aos romanos:
"A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens (...) De modo que não se podem escusar (...) Eles [os romanos e outros] extraviaram-se em seus vãos pensamentos, obscurecendo-se o seu coração insensato (...) Deus os entregou aos desejos de seus corações e à imundície, de modo que desonraram entre si os seus corpos (...) Por isso Deus os entregou a vergonhosas paixões. As suas mulheres mudaram as relações naturais contra a natureza e, do mesmo modo, os homens, deixando a relação natural com as mulheres, arderam em desejos uns para com os outros, praticando torpezas homens com homens e recebendo em seus corpos (sic) a paga devida de seu próprio desvario (...) Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera digno de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam como, também, aplaudem os que as cometem" (Rm, 2, 18-32).
As destacadas fotos das paradas mostram não apenas a multidão presente, mas cenas agressivas e escandalosas. Uma delas apresentava uma lésbica vestida com o hábito das carmelitas. Foi das menos acintosas, entre outras. Pedindo a igreja e os seus pastores, até com certa freqüência, respeito aos homossexuais, têm certamente ela e os heterossexuais indiscutível direito ao mínimo de respeito tanto às crianças quanto às famílias bem constituídas.
Deixando de lado outras inoportunas e inexatas considerações do referido articulista, é lamentável o desdém de não poucos homossexuais pelo casamento, a família e a vida. É oportuno recomendar a todos a leitura de textos não apenas cristãos, mas judaicos, muçulmanos e budistas, posicionando-se todos contra o homossexualismo e a igualdade de direitos com os heterossexuais.
O problema de fundo é, na realidade, o da afetividade e sexualidade humanas. Afirmando alguém que o sexo é fim, e não meio, legitimando a busca do prazer pelo prazer, tudo é permitido. Porém os que não se deixam levar por um discutível relativismo ético e moral estarão sempre reafirmando valores indiscutíveis, como o do verdadeiro casamento e da família, destinados, no plano de Deus, a nobres finalidades. Entre elas, vem a propósito destacar duas: a legítima expressão corporal do amor entre homem e mulher, na intimidade da vida conjugal, e a abertura e o acolhimento ao dom da vida dos filhos, sem os quais estaríamos caminhando para a "25ª hora".
Rejeitando o homossexualismo, como é seu dever, a igreja e todos os que têm como ponto de referência valores como a dignidade humana continuarão respeitando a opção homossexual de quem quiser usar da própria liberdade, entendendo-a como o direito de fazer o que quiser, e não como a faculdade de escolher os melhores caminhos para a própria vida e a sociedade.
Ao que me consta, nenhuma igreja cristã aprovou o procedimento de Hitler contra os homossexuais. Desafio o articulista a apresentar, nos 20 séculos da longa história da minha igreja, um texto oficial legitimando o homossexualismo ou qualquer tipo de agressão aos que se comportam como homossexuais. É lamentável a agressividade contra a igreja por parte de grupos gays. Feliz a nação cuja lei protege o casamento, a família e a vida!

Dom Amaury Castanho, 76, jornalista, é bispo emérito de Jundiaí (SP). É autor de, entre outros livros, "A Serviço do Evangelho, do Reino de Deus e dos Homens".


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