|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Incerteza em alta
Para a economia mundial voltar a sustentar taxas elevadas de crescimento será preciso reequilibrar relações entre os países
Depois da rápida recuperação
nos últimos 12 meses, acumulam-se sinais de esgotamento e crescem os riscos de recaída da economia mundial. O crescimento acelerado -com expansão industrial
superior a 10% desde o início do
ano- esteve em parte ligado à recomposição de estoques e, ao que
tudo indica, perderá força.
É um movimento natural que
não deveria por si gerar preocupações extremadas. Mas há outras
incertezas no contexto atual: a crise na Europa antecipou um aperto
fiscal que só se esperava para
2011, os EUA ainda patinam com
baixa criação de emprego e a China adotou medidas agressivas de
controle no setor imobiliário.
Não está claro qual será a resultante dessas forças. Algumas projeções alarmistas têm ganhado
evidência: nova recessão nos
EUA, crise bancária na Europa,
risco de ruptura do euro e estouro
do que seria uma bolha imobiliária chinesa. A pronta reação dos
mercados financeiros a essas previsões só tem contribuído para aumentar a insegurança.
É cedo no entanto para acreditar no pior. Permanecem em cena
as indicações de solidez nas economias em desenvolvimento, a liquidez de bancos e empresas é
bem melhor que em 2008 e as autoridades dos países ricos continuam atuando com vigor -na Europa, por exemplo, espera-se
avanço com os chamados testes
de estresse nos bancos.
Cabe, no entanto, o alerta de
que ainda não há um encaminhamento satisfatório do que talvez
seja a causa maior dos problemas
atuais na economia mundial: o
crescimento global desequilibrado que se viu na última década.
De um lado, estão os países que
cresceram com consumo excessivo e incorreram em pesados deficits externos, como os EUA, a Inglaterra e a periferia da Europa. O
resultado foi um grande endividamento do setor privado e, desde o
ano passado, dos governos que
vieram em seu socorro.
De outro estão os que acumularam superavits externos por meio
de exportações e consumo interno
baixo. A China é o exemplo maior,
com US$ 2,5 trilhões em reservas
internacionais e uma posição credora contra os EUA. A Alemanha,
por sua vez, também é credora dos
outros países da União Europeia.
Mas, ao contrário da China, seu
governo não acumulou reservas.
São seus bancos que detêm créditos contra o restante da Europa e,
agora, se veem ameaçados.
Esse modelo se esgotou, e os
países devedores terão que consumir menos e exportar mais por
muitos anos. Em tese o problema
poderia ser resolvido se países credores fizessem o movimento contrário. Caso não o façam, a chance
maior é que o mundo permaneça
preso em uma armadilha de excesso de capacidade de produção,
falta de consumo e deflação.
Não havendo maior descontrole financeiro, como ainda parece
possível, há boa chance de que a
desaceleração econômica em curso seja moderada e que 2011 seja
um ano positivo. Mas a sustentação do crescimento global em nível alto só será possível a médio
prazo se houver um reequilíbrio
entre países e regiões.
Próximo Texto: Editoriais: Reforma urbana
Índice
|