São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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A CRISE REAL

Se for possível retirar uma espécie de "média" das opiniões dos analistas econômicos, a saída da crise financeira em que o Brasil está imerso deve dar-se pela via da desaceleração. Paradoxalmente, esse cenário aparece como o menos pessimista se for contrastado com outros, em que as linhas de financiamento externo para o Brasil não sejam retomadas logo. Mas, mesmo na saída menos traumática, não é possível "comemorar" as perspectivas de um ajuste que vai abalar a renda e o emprego -portanto, a qualidade de vida dos brasileiros.
Como sempre, o impacto desses momentos ruins da economia brasileira tende a ser maior nas camadas mais pobres da população. Em 1992, terceiro ano consecutivo de recessão da economia brasileira, foi de 15,2% a taxa média de desemprego medida pelo Seade na Região Metropolitana de São Paulo. A taxa de junho deste ano ficou próxima dos 19%.
A julgar pelos prognósticos, o Brasil deve entrar numa dinâmica em que recursos públicos para investir na área social tendem a minguar. Há quebras de arrecadação, seja na União, seja no âmbito dos Estados e dos municípios. Diminuem, por exemplo, a receita do governo federal com o IPI e a do Estado de São Paulo com o ICMS -tributos diretamente vinculados à atividade econômica.
Por seu turno, o esforço fiscal exigido de todas as instâncias do setor público para sinalizar aos investidores internacionais que o país pode pagar suas dívidas vai significar, também, menos disponibilidade de dinheiro para mitigar os flagelos da desaceleração econômica. Nesse cenário, a bomba social em torno das grandes metrópoles, que já vem explodindo em termos de violência, tende a se tornar ainda mais destrutiva. Na Região Metropolitana de São Paulo, a taxa de desemprego entre jovens (de 18 a 24 anos) está próxima dos 29%.
É preciso que as autoridades estudem formas contingenciais de evitar a derrocada da já péssima qualidade de vida nas grandes cidades do país.



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