|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Uma gota de otimismo
SÃO PAULO - Havia muito tempo que não se via tanta notícia sobre o Brasil
na mídia global -desde 1999, quando explodiu a crise do primeiro governo FHC. É ingrato, mas poderia
ser pior. Na semana passada, os analistas passaram a dizer que não se pode deixar o Brasil cair.
Empresas dos EUA e da Europa
têm dezenas de bilhões de dólares investidos aqui. Bancos e investidores
ficariam na pior se, depois da Argentina e de megaempresas americanas,
o Brasil também fosse à breca. O crédito mundial poderia emperrar. O
governo americano acordou e vai
emprestar dinheiro do próprio bolso
-não do FMI- para tirar o pequeno Uruguai da lama.
A crise então vai passar? No melhor
dos casos, sairemos dessa só com
mais inflação, e, desde que o BC não
tenha a idéia de jerico de elevar os juros, pode até começar alguma recuperação. Mas há vários poréns.
A tensão no mercado vai continuar
até se conhecer o novo presidente e o
que ele vai fazer, não tem jeito.
Há o enorme porém americano.
Não se sabe a extensão da picaretagem nas empresas, nem o quanto o
governo Bush está metido nisso, uma
ameaça ao mercado mundial.
A economia dos EUA está falhando. O investimento externo nos EUA
este ano é só um terço do que foi em
2000. Por isso tudo, o dólar pode cair
diante do euro e do iene, um pepino
para Europa e Japão.
Em setembro, sai nova rodada de
balanços de empresas americanas. Se
ruins, o que não é improvável, vem
mais turbulência. Na mesma época,
os americanos recebem seu extrato
anual de aposentadorias e investimentos, magrinho por causa da queda das Bolsas. Com o susto, podem
parar de gastar -mais areia na economia. Pior, Bush pode atacar o Iraque. O petróleo pode subir muito e,
aí, Deus nos ajude.
O país precisa de dólares do FMI
-e do Banco Mundial também, que
se podem usar com mais liberdade
para acalmar a crise. O dinheiro deve vir e amainar a seca de crédito para as empresas. Quanto e como vem é
a questão. Mas apostar em desastre
certo é burrice. Por ora, ao menos.
Texto Anterior: Editoriais: TRAGÉDIAS PARALELAS
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Falta capitalismo Índice
|