São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Uma gota de otimismo

SÃO PAULO - Havia muito tempo que não se via tanta notícia sobre o Brasil na mídia global -desde 1999, quando explodiu a crise do primeiro governo FHC. É ingrato, mas poderia ser pior. Na semana passada, os analistas passaram a dizer que não se pode deixar o Brasil cair.
Empresas dos EUA e da Europa têm dezenas de bilhões de dólares investidos aqui. Bancos e investidores ficariam na pior se, depois da Argentina e de megaempresas americanas, o Brasil também fosse à breca. O crédito mundial poderia emperrar. O governo americano acordou e vai emprestar dinheiro do próprio bolso -não do FMI- para tirar o pequeno Uruguai da lama.
A crise então vai passar? No melhor dos casos, sairemos dessa só com mais inflação, e, desde que o BC não tenha a idéia de jerico de elevar os juros, pode até começar alguma recuperação. Mas há vários poréns.
A tensão no mercado vai continuar até se conhecer o novo presidente e o que ele vai fazer, não tem jeito.
Há o enorme porém americano. Não se sabe a extensão da picaretagem nas empresas, nem o quanto o governo Bush está metido nisso, uma ameaça ao mercado mundial.
A economia dos EUA está falhando. O investimento externo nos EUA este ano é só um terço do que foi em 2000. Por isso tudo, o dólar pode cair diante do euro e do iene, um pepino para Europa e Japão.
Em setembro, sai nova rodada de balanços de empresas americanas. Se ruins, o que não é improvável, vem mais turbulência. Na mesma época, os americanos recebem seu extrato anual de aposentadorias e investimentos, magrinho por causa da queda das Bolsas. Com o susto, podem parar de gastar -mais areia na economia. Pior, Bush pode atacar o Iraque. O petróleo pode subir muito e, aí, Deus nos ajude.
O país precisa de dólares do FMI -e do Banco Mundial também, que se podem usar com mais liberdade para acalmar a crise. O dinheiro deve vir e amainar a seca de crédito para as empresas. Quanto e como vem é a questão. Mas apostar em desastre certo é burrice. Por ora, ao menos.



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