São Paulo, segunda-feira, 05 de agosto de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Falta capitalismo

BRASÍLIA - É excepcional que o Brasil faça sua primeira eleição presidencial do século 21 com seis candidatos ditos de esquerda ou simpatizantes. Não existe um capaz de defender abertamente o capitalismo.
Dois presidenciáveis são recém-saídos do século 19. Zé Maria (do trotskista PSTU) e Rui Pimenta (do comunista PCO) são de ultra-esquerda.
Os outros quatro não ficam muito atrás quando se observam suas origens e as de seus partidos. José Serra surgiu na chamada esquerda igrejeira, militando na AP (Ação Popular), organização ligada ao pensamento católico, vamos dizer, progressista.
Lula, do PT, dispensa apresentações. Até outro dia seu partido vivia defendendo o não-pagamento da dívida externa.
Ciro Gomes é filiado ao PPS, novo nome do antigo partidão, o principal partido comunista do Brasil. Hoje, a sigla só é socialista.
Por fim, o evangélico Anthony Garotinho se apresenta como candidato de esquerda e pertence ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), comandado pelo ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes.
É evidente que nem todos os seis presidenciáveis podem ser considerados representantes da esquerda clássica. Muita gente acha até que Lula será mais ortodoxo do que um liberal tradicional se chegar à Presidência.
Mas há uma mensagem no fato de ninguém se apresentar abertamente como defensor do livre mercado, das regras claras da competição.
Que nenhum presidenciável, enfim, diga o seguinte: "O principal objetivo do meu governo é que alguém interessado em abrir um negócio, seja um carrinho de cachorro-quente ou uma fábrica de aviões, terá rapidamente uma licença para trabalhar, baixos impostos para pagar e garantia de que as leis serão cumpridas".
A leitura dessa conjuntura é simples. Para o bem ou para o mal, falta capitalismo ao Brasil. E vai continuar faltando, não importa quem vença a eleição de outubro.



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