São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A Previdência e o viver mais

O IBGE nos trouxe uma cesta de boas notícias nesta semana. Quanto à economia, a instituição informa que o PIB de 2004 poderá crescer acima de 4%, podendo chegar aos 5%. Quanto ao desemprego, o IBGE registrou mais uma queda na taxa de brasileiros desocupados (11,2%), o que faz muitos analistas anteciparem uma boa sofra de empregos neste ano.
A mais importante das notícias, porém, diz respeito às nossas vidas. Fazendo a revisão de suas projeções demográficas, o IBGE concluiu que, em 2050, os brasileiros viverão em média 81 anos. Esse é um salto extraordinário em relação à situação atual, em que a vida média está em torno de 70 anos.
Mas é aqui que se coloca um imenso desafio para o Brasil. Viver mais é desejo de todo ser humano. O mais importante, porém, é viver mais e viver bem. Isso depende basicamente de boa saúde e boa Previdência Social.
O envelhecimento da população coloca a necessidade de uma verdadeira revolução nas políticas de saúde. No ano 2000, o Brasil tinha menos de 2 milhões de pessoas com 80 anos de idade. Em 2050, terá 14 milhões, sem contar a imensidão de pessoas entre 70 e 80 anos.
Seremos um país da terceira ou quarta idade. As políticas públicas na área de saúde terão de ser todas reformuladas. Os idosos sempre estão sujeitos a mais doenças e a acidentes inesperados. O consumo de medicamentos e equipamentos aumenta. A demanda por serviços médicos, odontológicos e psicológicos é enorme. Para que os "novos velhos" possam viver bem, a atual estrutura de atendimento terá de ser substancialmente ampliada e melhorada -o que custa muito dinheiro.
O aumento da vida média produz um alongamento dos anos em que as pessoas ficarão aposentadas. Isso significa que o atual sistema previdenciário terá uma pressão crescente para atender os que se aposentam.
Se o sistema é deficitário hoje em dia, quando a vida média é de 70 anos, o que será em 2050, quando a vida média atingirá os 81 anos? Muitas pessoas viverão até os 90 anos. Se elas se aposentarem aos 60, como reza a lei de hoje, elas dependerão da aposentadoria por 30 anos!
É evidente que a Previdência Social terá de mudar para atender a essa revolução demográfica. Para o INSS, se aumenta a quantidade de idosos (que geram despesas) e diminui a quantidade de jovens (que geram renda), é óbvio que a Previdência Social terá de elevar a idade de aposentadoria.
Tais mudanças são sempre difíceis quando implantadas de chofre. Os dados do IBGE são verdadeiras senhas para os sistemas de saúde e de aposentadoria introduzirem mudanças agora para entrarem em vigor a partir de 2010. A demografia está dada. Resta-nos adaptar as instituições existentes.
Só dessa forma poderemos contar com uma sociedade melhor e mais segura para nossos filhos e netos.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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