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Emergência na saúde
Reajustar a tabela do SUS e regulamentar a emenda nš 29 não basta; é preciso também obter ganhos na gestão
É GRAVE a situação do sistema público de saúde.
Prova-o a constante troca
de acusações entre as autoridades responsáveis.
Pressionado pelo noticiário
em torno das greves no Nordeste, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou na semana passada uma verba suplementar de R$ 2 bilhões para o setor, no que foi prontamente desmentido pelo titular da Fazenda,
Guido Mantega. A liberação estava "em estudos". Não pegou
bem. Presumivelmente, uma
força superior mandou que os
dois se entendessem.
Anteontem, Temporão e Mantega apareceram juntos para
anunciar a liberação dos R$ 2 bilhões. Fizeram-no lançando duras críticas a Estados e municípios, muitos dos quais não alocam na saúde os recursos que
lhes são constitucionalmente
devidos. Confirma-se aqui o ditado popular: "Em casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão".
É muito fácil apontar problemas no SUS. Eles existem por todos os lados e têm as mais diversas etiologias. Para fazer justiça
ao sistema, porém, é preciso reconhecer que ele opera um verdadeiro milagre, ao permitir que
todos os brasileiros tenham
acesso gratuito à saúde -ainda
com qualidade e presteza muito
aquém do adequado.
Atualmente, o maior problema
enfrentado pelo SUS é de financiamento. A tabela de procedimentos pela qual o governo federal remunera hospitais que atendem pelo sistema universal está
totalmente defasada.
Estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostra
que, do lançamento do Plano
Real, em 1994, até outubro de
2006, a tabela do SUS havia sido
reajustada em 37% contra um
IGP-M de 418%. O Ministério da
Saúde paga R$ 7,60 por uma consulta com médico especialista,
cujo custo médio é de R$ 21. Por
uma chapa de raio X que sai por
R$ 28, o governo federal dá R$ 5.
A diferença precisaria ser completada por Estados, municípios
e pacientes particulares, no caso
de hospitais que os atendem. A
emenda constitucional nš 29 determina que os Estados apliquem 12% de seus orçamentos
na saúde, e os municípios, 15%.
O problema é que tal norma jamais foi regulamentada, de modo que a rubrica dos gastos em
saúde ficou sem definição. Isso
abriu as portas para governantes
contabilizarem como despesas
sanitárias empenhos às vezes tão
exóticos como o subsídio a restaurantes populares. A estratégia
não é nova. O próprio governo federal que agora se queixa, com
razão, do expediente tentou pôr,
em 2003, o programa Fome Zero
na conta da saúde.
Nos cálculos do ministério, 20
das 27 unidades federativas gastaram menos do que os 12% em
2005. Subfinanciado, o setor vai
mostrando suas falhas com exuberância de formas: greves, demissões coletivas, falta de profissionais, de equipamento etc.
É preciso com urgência reajustar a tabela do SUS e regulamentar a emenda nš 29. Mas apenas
isso não bastará. A incorporação
de novas tecnologias tende a tornar a medicina cada vez mais cara. Se não ocorrerem ganhos
substanciais na gestão do sistema, o que implicará enfrentar e
vencer poderosos lobbies, qualquer alívio agora será menos do
que momentâneo.
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