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Inimigo íntimo
Bush, Cheney e McCain transformam Putin em ameaça frontal aos EUA
e conseguem colocar Obama na defensiva
NUNCA É prudente acreditar no que diz Vladimir Putin. Mas não se
pode deixar de reconhecer o acerto do premiê plenipotenciário da Rússia em pelo
menos um aspecto envolvendo o
conflito com a Geórgia. O governo americano faz o possível para
transformar a "ameaça russa"
num tema crucial da campanha
pela Casa Branca -o que vai ao
encontro do interesse do candidato da situação, John McCain.
O que o autocrata de Moscou
não diz, evidentemente, é que a
Rússia está colaborando para dar
concretude à plataforma republicana. O Kremlin patrocina o
redesenho, pela força, das fronteiras no Cáucaso e propaga o
discurso, de resto farsesco, do retorno à Guerra Fria.
Se a região do Mar Negro tornou-se um palco para os barões
da guerra, Dick Cheney não desperdiçou a deixa. O vice-presidente dos Estados Unidos, patrono do intervencionismo militar que marca o governo George
W. Bush, dedica-se agora a um
périplo pela vizinhança caucasiana da Rússia cujo único objetivo é provocar Moscou -e, assim, não deixar que o tema reflua
no debate eleitoral doméstico.
Na Geórgia, ontem, Cheney renovou o apoio dos EUA para que
o pequeno país se torne membro
da Otan, a aliança militar ocidental. Pouco importa que o governo
Bush não tenha condições de entregar o que promete, seja porque está em fim de mandato, seja
porque a adesão depende de contornar resistências da França e
da Alemanha, sócios da Otan que
se opõem à admissão da Geórgia.
O que interessa aos "falcões" de
Bush é atiçar o urso russo.
No que diz respeito à campanha pela sucessão de Bush, a estratégia está funcionando. Os republicanos conseguiram, ao menos temporariamente, impor o
tema à agenda do debate partidário. Pesquisas com o eleitorado
americano mostram que a principal vulnerabilidade atribuída
ao democrata Barack Obama repousa, justamente, nos temas de
política externa e de defesa.
A propaganda e o discurso de
McCain estão repletos de referências à ameaça russa. Putin,
outrora recebido calorosamente
no rancho texano de Bush, começa a ser deslocado para a classe dos vilões, onde estão Mahmoud Ahmadinejad, Hugo Chávez, King Jong-il e Osama bin
Laden. Enquanto o candidato republicano, com suas credenciais
de herói de guerra, atua com desenvoltura no papel de paladino
de uma resposta "dura" aos russos, Obama foi empurrado para a
defensiva nesse tema.
O democrata tem sustentado,
desde o início de sua campanha,
que privilegiará a diplomacia e o
multilateralismo para lidar com
assuntos de interesse dos EUA
no exterior -o que é apenas bom
senso, após o desastroso programa de Bush. Seria a ocasião ideal
para contrapor essa plataforma à
escalada da oratória republicana.
Mas os democratas não desejam
pôr à prova a hipótese de que a
maioria do eleitorado está farta
de bravatas militaristas.
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