São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O rei do auditório

SÃO PAULO - Anthony Garotinho (PSB) foi, com alguma folga, o de melhor desempenho no debate de anteontem na TV Globo.
Quer dizer que se trata do candidato mais equipado para presidir a República? Não necessariamente. Pode até ser, mas não por ter sido o melhor no debate.
O debate apenas indica que Garotinho é o rei do auditório -em parte por ser naturalmente desenvolto, em parte por sua experiência profissional como radialista.
Receio, aliás, que, pelo menos com o formato e com as regras que as emissoras brasileiras adotam, debates só sirvam para escolher o melhor debatedor, não o melhor candidato (à Presidência, aos governos estaduais ou às prefeituras).
Para começar, voltemos ao significado da palavra "debate" tal como está no Aurélio: "Troca de idéias em que se alegam razões pró ou contra, com vistas a uma conclusão".
Muito bem: alguém aí chegou a alguma conclusão sobre, por exemplo, a proposta de emenda constitucional que preveria o confisco, conforme acusação de Garotinho a Serra, por este rebatida?
Se chegou, ou é porque tinha informação prévia, ou consultou alguma outra fonte depois ou durante o debate. A troca de idéias, em si, ao vivo e em cores, não permitiu conclusão nenhuma, certo?
O fascínio pelo debate televisivo, como se sabe, nasceu do confronto Nixon/Kennedy, nos Estados Unidos, há 40 anos. Dizem que Kennedy só se elegeu porque ganhou o debate.
O espírito de imitação faz com que, no mundo inteiro, pipoquem candidatos a Kennedy e candidatos a não serem Nixon.
Uma coisa é o "mano a mano", como foi o Kennedy/Nixon, outra, bem pior, é um debate com, por exemplo, quatro candidatos.
Vira um belo programa de auditório, com algumas informações, mas não uma verdadeira troca de idéias para que se chegue a uma conclusão.



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