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CLÓVIS ROSSI
O rei do auditório
SÃO PAULO - Anthony Garotinho (PSB) foi, com alguma folga, o de melhor desempenho no debate de anteontem na TV Globo.
Quer dizer que se trata do candidato mais equipado para presidir a República? Não necessariamente. Pode
até ser, mas não por ter sido o melhor
no debate.
O debate apenas indica que Garotinho é o rei do auditório -em parte
por ser naturalmente desenvolto, em
parte por sua experiência profissional como radialista.
Receio, aliás, que, pelo menos com o
formato e com as regras que as emissoras brasileiras adotam, debates só
sirvam para escolher o melhor debatedor, não o melhor candidato (à
Presidência, aos governos estaduais
ou às prefeituras).
Para começar, voltemos ao significado da palavra "debate" tal como
está no Aurélio: "Troca de idéias em
que se alegam razões pró ou contra,
com vistas a uma conclusão".
Muito bem: alguém aí chegou a alguma conclusão sobre, por exemplo,
a proposta de emenda constitucional
que preveria o confisco, conforme
acusação de Garotinho a Serra, por
este rebatida?
Se chegou, ou é porque tinha informação prévia, ou consultou alguma
outra fonte depois ou durante o debate. A troca de idéias, em si, ao vivo
e em cores, não permitiu conclusão
nenhuma, certo?
O fascínio pelo debate televisivo, como se sabe, nasceu do confronto Nixon/Kennedy, nos Estados Unidos,
há 40 anos. Dizem que Kennedy só se
elegeu porque ganhou o debate.
O espírito de imitação faz com que,
no mundo inteiro, pipoquem candidatos a Kennedy e candidatos a não
serem Nixon.
Uma coisa é o "mano a mano", como foi o Kennedy/Nixon, outra, bem
pior, é um debate com, por exemplo,
quatro candidatos.
Vira um belo programa de auditório, com algumas informações, mas
não uma verdadeira troca de idéias
para que se chegue a uma conclusão.
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