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CARLOS HEITOR CONY
Como seria bom
RIO DE JANEIRO - Tive uma idéia extravagante enquanto assistia ao último debate entre os presidenciáveis.
Não é novidade para os meus lados,
sempre tenho idéias absurdas e sonhos impossíveis. Vi quatro cidadãos
de origens diversas mostrarem um
conhecimento enciclopédico dos problemas nacionais, desde os preços das
passagens de ônibus em São Paulo e o
tráfico de drogas no Rio até as complicadas negociações com os organismos internacionais.
Uns pelos outros, todos estão preparados para governar e é uma pena
que não governem juntos, num quadriunvirato -afinal, o Império Romano teve cônsules, na França houve
o Diretório, enfim, um governo coletivo e harmônico não seria fato novo
na história.
Sei onde a porca torce o rabo. Cada
um deles tem seus compromissos. Primeiro, com os quadros partidários,
que terão candidatos conflitantes para os cargos de primeiro e segundo escalões. Depois, com os patrocinadores
das campanhas.
Isolados, liberados desses compromissos partidários e financeiros, os
quatro poderiam entender-se entre
si, designando em consenso um varão apartidário para desempenhar o
papel de chefe de Estado com a representação social, burocrática e diplomática -apenas isso, como nos regimes parlamentaristas.
E cada um deles assumiria, em forma de mutirão, o governo da máquina, sempre em consenso, os quatro
opinando sobre os problemas, mas
um deles sendo o delegado, o executivo de determinada ação específica.
Prova disso é que os candidatos se
acusaram de terem lido seus respectivos programas, propondo soluções
idênticas ou análogas para os problemas nacionais.
Como disse, a impossibilidade desta fórmula seriam os quadros partidários, famintos de poder e de mordomia. São milhares de cargos da administração pública que deverão ser
preenchidos por nomeação -não temos um quadro funcional permanente; quando muda o presidente,
muda até o diarista que varre a garagem de suas excelências.
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