São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Como seria bom

RIO DE JANEIRO - Tive uma idéia extravagante enquanto assistia ao último debate entre os presidenciáveis. Não é novidade para os meus lados, sempre tenho idéias absurdas e sonhos impossíveis. Vi quatro cidadãos de origens diversas mostrarem um conhecimento enciclopédico dos problemas nacionais, desde os preços das passagens de ônibus em São Paulo e o tráfico de drogas no Rio até as complicadas negociações com os organismos internacionais.
Uns pelos outros, todos estão preparados para governar e é uma pena que não governem juntos, num quadriunvirato -afinal, o Império Romano teve cônsules, na França houve o Diretório, enfim, um governo coletivo e harmônico não seria fato novo na história.
Sei onde a porca torce o rabo. Cada um deles tem seus compromissos. Primeiro, com os quadros partidários, que terão candidatos conflitantes para os cargos de primeiro e segundo escalões. Depois, com os patrocinadores das campanhas.
Isolados, liberados desses compromissos partidários e financeiros, os quatro poderiam entender-se entre si, designando em consenso um varão apartidário para desempenhar o papel de chefe de Estado com a representação social, burocrática e diplomática -apenas isso, como nos regimes parlamentaristas.
E cada um deles assumiria, em forma de mutirão, o governo da máquina, sempre em consenso, os quatro opinando sobre os problemas, mas um deles sendo o delegado, o executivo de determinada ação específica.
Prova disso é que os candidatos se acusaram de terem lido seus respectivos programas, propondo soluções idênticas ou análogas para os problemas nacionais.
Como disse, a impossibilidade desta fórmula seriam os quadros partidários, famintos de poder e de mordomia. São milhares de cargos da administração pública que deverão ser preenchidos por nomeação -não temos um quadro funcional permanente; quando muda o presidente, muda até o diarista que varre a garagem de suas excelências.


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