São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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O QUE DIZEM AS URNAS

O Partido dos Trabalhadores é, até aqui, o vencedor das eleições do último domingo. Das 11 capitais que definiram seu futuro prefeito em primeiro turno, o PT ganhou em seis: Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Aracaju (SE), Macapá (AP), Rio Branco (AC) e Palmas (TO). A agremiação disputará ainda o segundo escrutínio em nove delas.
Em termos nacionais, o PT é o partido que mais votos recebeu para prefeito nos 5.562 municípios brasileiros. Embora esteja longe de conquistar o maior número de administrações, é preciso registrar que o PT foi, dentre as grandes agremiações, a que mais cresceu nesse quesito, quando comparado ao total de cidades em que venceu no pleito anterior.
Já PMDB, PSDB, PFL e PP, que seguem numericamente à frente da legenda governista, diminuíram sua participação em relação a 2000. O PTB obteve um pequeno aumento. Curiosamente, PPS, PSB e PDT, que, com maior ou menor razão, se consideram siglas de esquerda, cresceram no cotejo com o pleito anterior.
É preciso algum cuidado ao fazer considerações ideológicas a respeito de prefeituras dos grotões do país. O candidato hoje eleito por uma sigla pode ter pouco ou nenhum compromisso com ela. Muitos provavelmente mudarão de legenda em 2006, antes do pleito para a Presidência e para os governos estaduais, se isso atender aos seus interesses paroquiais.
Qualitativamente, a situação é mais complicada. Aqui, cada um encontrará elementos para demonstrar a tese que melhor convier. Podem figurar como pontos negativos para o PT, por exemplo, as derrotas em Ribeirão Preto, cidade do ministro Antonio Palocci, e São Bernardo do Campo, onde vota o presidente Lula, que emprestou apoio pessoal ao candidato petista Vicentinho.
De modo análogo, é possível ver como uma derrota para o PSDB o fato de o partido não ter até aqui garantido nenhuma prefeitura de capital. Saem enfraquecidos importantes caciques do partido, como o senador Tasso Jereissati, que amargou derrota em Fortaleza, e Aécio Neves, que perdeu em Belo Horizonte. São situações que tendem a favorecer o governador Geraldo Alckmin numa eventual candidatura à Presidência em 2006. Essa perspectiva será reforçada na hipótese de vitória do postulante tucano José Serra em São Paulo, pleito que, como se previa, assumiu caráter estratégico e simbólico para o PT e o PSDB.
Quem triunfar em São Paulo terá uma boa razão para declarar-se o grande vencedor das disputas municipais. O tucano José Serra terminou o primeiro escrutínio com uma vantagem maior do que a prevista sobre a prefeita Marta Suplicy, mas a eleição está longe de definida.
Quaisquer que venham a ser os resultados do segundo turno, pode-se afirmar que PT e PSDB se converteram nas duas grandes forças políticas do país. Embora outros partidos como PMDB, PFL e PP conservem grande número de prefeituras, eles estão, com exceções aqui e acolá, sendo empurrados dos grandes centros urbanos para o interior.
Significativamente, o embate das duas agremiações vai se dando num contexto em que são cada vez menos expressivas as divergências conceituais entre petistas e tucanos. Certamente que há diferenças de método, de cultura, de inserção social e mesmo de concepções, mas, depois da convergência para o centro das duas legendas, é difícil encontrar um grande divisor ideológico ou programático a colocá-las em choque.
Talvez estejamos assistindo a uma redefinição, pelo eleitorado brasileiro, do campo político em que os partidos devem atuar: mais ao centro, mais previsíveis, com preocupações sociais que pareçam autênticas e um certo verniz ético. Hoje, PT e PSDB são, dentre os grandes partidos, aqueles cujas imagens mais se aproximam desses requisitos.


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