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O QUE DIZEM AS URNAS
O Partido dos Trabalhadores
é, até aqui, o vencedor das eleições do último domingo. Das 11 capitais que definiram seu futuro prefeito em primeiro turno, o PT ganhou em seis: Belo Horizonte (MG),
Recife (PE), Aracaju (SE), Macapá
(AP), Rio Branco (AC) e Palmas
(TO). A agremiação disputará ainda
o segundo escrutínio em nove delas.
Em termos nacionais, o PT é o partido que mais votos recebeu para prefeito nos 5.562 municípios brasileiros. Embora esteja longe de conquistar o maior número de administrações, é preciso registrar que o PT foi,
dentre as grandes agremiações, a
que mais cresceu nesse quesito,
quando comparado ao total de cidades em que venceu no pleito anterior.
Já PMDB, PSDB, PFL e PP, que seguem numericamente à frente da legenda governista, diminuíram sua
participação em relação a 2000. O
PTB obteve um pequeno aumento.
Curiosamente, PPS, PSB e PDT, que,
com maior ou menor razão, se consideram siglas de esquerda, cresceram no cotejo com o pleito anterior.
É preciso algum cuidado ao fazer
considerações ideológicas a respeito
de prefeituras dos grotões do país. O
candidato hoje eleito por uma sigla
pode ter pouco ou nenhum compromisso com ela. Muitos provavelmente mudarão de legenda em 2006, antes do pleito para a Presidência e para
os governos estaduais, se isso atender aos seus interesses paroquiais.
Qualitativamente, a situação é mais
complicada. Aqui, cada um encontrará elementos para demonstrar a
tese que melhor convier. Podem figurar como pontos negativos para o
PT, por exemplo, as derrotas em Ribeirão Preto, cidade do ministro Antonio Palocci, e São Bernardo do
Campo, onde vota o presidente Lula,
que emprestou apoio pessoal ao candidato petista Vicentinho.
De modo análogo, é possível ver
como uma derrota para o PSDB o fato de o partido não ter até aqui garantido nenhuma prefeitura de capital.
Saem enfraquecidos importantes caciques do partido, como o senador
Tasso Jereissati, que amargou derrota em Fortaleza, e Aécio Neves, que
perdeu em Belo Horizonte. São situações que tendem a favorecer o governador Geraldo Alckmin numa
eventual candidatura à Presidência
em 2006. Essa perspectiva será reforçada na hipótese de vitória do postulante tucano José Serra em São Paulo,
pleito que, como se previa, assumiu
caráter estratégico e simbólico para o
PT e o PSDB.
Quem triunfar em São Paulo terá
uma boa razão para declarar-se o
grande vencedor das disputas municipais. O tucano José Serra terminou
o primeiro escrutínio com uma vantagem maior do que a prevista sobre
a prefeita Marta Suplicy, mas a eleição está longe de definida.
Quaisquer que venham a ser os resultados do segundo turno, pode-se
afirmar que PT e PSDB se converteram nas duas grandes forças políticas do país. Embora outros partidos
como PMDB, PFL e PP conservem
grande número de prefeituras, eles
estão, com exceções aqui e acolá,
sendo empurrados dos grandes centros urbanos para o interior.
Significativamente, o embate das
duas agremiações vai se dando num
contexto em que são cada vez menos
expressivas as divergências conceituais entre petistas e tucanos. Certamente que há diferenças de método,
de cultura, de inserção social e mesmo de concepções, mas, depois da
convergência para o centro das duas
legendas, é difícil encontrar um
grande divisor ideológico ou programático a colocá-las em choque.
Talvez estejamos assistindo a uma
redefinição, pelo eleitorado brasileiro, do campo político em que os partidos devem atuar: mais ao centro,
mais previsíveis, com preocupações
sociais que pareçam autênticas e um
certo verniz ético. Hoje, PT e PSDB
são, dentre os grandes partidos,
aqueles cujas imagens mais se aproximam desses requisitos.
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