São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004

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DECISÃO DE CRESCER

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, voltou a declarar que o governo brasileiro não pretende promover novo entendimento com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A última parcela do acordo em vigor vence em março de 2005 e, segundo o ministro Palocci, será "bom para o Brasil e para o Fundo Monetário se não forem necessários novos empréstimos".
Quanto a isso, não há nenhuma dúvida. Se a o país continuar gerando os dólares de que necessita para manter sob controle suas contas externas, todos ganham. Politicamente, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será de evidente proveito poder anunciar, enfim, a interrupção dos laços formais com o Fundo, não pela via da ruptura, como apregoavam os petistas em suas "bravatas" dos tempos de oposição, mas pelo caminho da melhoria das condições externas da economia. Já para o FMI, com seu exíguo currículo de bons resultados e abundante rol de fracassos e problemas, o Brasil poderá ser apontado -e de certa forma isso já ocorre- como um caso de sucesso.
O que se deve indagar é que conseqüências a não-renovação do acordo teria sobre as decisões econômicas internas. Pelos sinais até aqui emitidos, a resposta parece ser: quase nenhuma. A separação, se de fato ocorrer, deverá ser bastante amigável e o governo brasileiro dificilmente fará algum movimento que possa ser interpretado como uma afronta às normas que têm regido o relacionamento do país com a instituição.
O que se pode esperar é que, na busca de um suplemento extra de credibilidade e de alguma eventual vantagem, como um fundo de emergência contra crises ou a possibilidade de aumentar a capacidade de investimento do setor público em infra-estrutura, as autoridades econômicas, como já fizeram recentemente, acenem com um ajuste fiscal ainda mais rigoroso.
Para o futuro do desenvolvimento brasileiro, mais do que a discussão formal sobre seguir ou não com o Fundo, importa saber se haverá decisão política das autoridades governamentais no sentido de criar as condições para um crescimento vigoroso e sustentável da economia. Ou, ao contrário, se a dinâmica econômica, mesmo sem a assinatura do FMI, permanecerá prisioneira do padrão medíocre e insatisfatório que se consolidou nos últimos anos, com baixo nível de investimento, juros persistentemente altos e desemprego em patamares preocupantes.


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