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FERNANDO RODRIGUES
Desolação
BRASÍLIA - Os locais reservados
para senadores e deputados tomarem café propiciam uma das imagens mais fantasmagóricas de Brasília. As enormes vidraças do edifício permitem observar vasto gramado em frente ao Congresso. É
um local quase sempre vazio, sem
vida e pouco hospitaleiro.
Neste ano, mais de 90 escândalos
foram registrados no Congresso.
Ninguém foi punido. Deputados e
senadores continuaram a entrar e a
sair do local sem serem admoestados, com as exceções de praxe.
Nos últimos tempos, passeatas de
protesto quase simétricas chamaram a atenção. Os jornalistas Filipe
Coutinho e Rodrigo Haidar mataram a charada. Não havia ocorrido
um súbito aumento da indignação
cívica. A balbúrdia cronometrada
era fruto dos novos serviços prestados por uma empresa de Brasília:
manifestantes profissionais "alugados" por R$ 40 cada.
Uma explicação para essa apatia
nacional a respeito de como se
comportam as instituições está no
resultado da pesquisa do Datafolha
sobre ética e corrupção, publicada
ontem. Expressivos 83% dos brasileiros admitem já ter cometido algum desvio de comportamento
-dos mais banais, como estacionar
em fila dupla, até vender o voto durante o período eleitoral.
Formou-se um círculo vicioso
nefando. O exemplo completo é o
da venda de voto. O brasileiro parece admitir esse desvio sob a alegação de perda de confiança nos políticos. Dentro do poder, ao mesmo
tempo, praticam-se estripulias com
a certeza de uma reação apenas
anêmica dos eleitores.
É possível argumentar a favor do
Brasil citando o pouco tempo de vivência democrática. São menos de
25 anos desde o final da ditadura
militar. Hoje, se as instituições não
são perfeitas, é necessário admitir
muitos avanços. OK. Mas o gramado vazio em frente ao Congresso
não deixa de produzir uma horrorosa sensação de desolação.
frodriguesbsb@uol.com.br
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