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RUY CASTRO
De olho nos cariocas
RIO DE JANEIRO - Neste fim de
semana, os jornais explodiram de
anúncios de página inteira saudando a escolha do Rio como sede da
Olimpíada de 2016, vindos da área
dos bancos, cartões de crédito,
energia, eletroeletrônicos, incorporadoras, carros, hotéis, shoppings,
supermercados, alimentos, bebidas, seguros, planos de saúde, laboratórios médicos, estabelecimentos
de ensino, construção civil, telefonia, comunicação e marketing, empresas aéreas etc, etc.
A maioria dessas empresas tem
sede em São Paulo, opera em São
Paulo, emprega milhões de paulistas e paulistanos e investe seus lucros na própria São Paulo. Como os
empresários são pessoas práticas e
costumam enxergar maior e mais
longe do que nós -ou não seriam
empresários-, a vitória do Rio foi
uma vitória do Brasil, do qual fazem
parte. E como fazem. Espírito de
porco não é com eles.
Será uma sacudida na economia
e, de um jeito ou de outro, todos ganharão, do vendedor de amendoim
na praia ao empregado de loja e aos
tubarões que construirão os hotéis.
Indiretamente, a saúde, a educação,
a segurança pública e a habitação
serão beneficiadas. Dirão vocês que
não é nada disso, que a roubalheira
vai campear e os recursos públicos
irão para os bolsos privados, porque
o carioca, vou te contar.
A turma tem razão. É preciso fiscalizar de perto os cariocas, e não
faltará gente para isto. O problema
é que, segundo pesquisa Datafolha
em todo o país, veiculada ontem no
Mais!, 83% dos brasileiros admitem já ter "cometido alguma prática ilegítima", de sonegar impostos e
subornar o fiscal a estacionar em fila dupla e piratear programas de
computador.
Como já roubei livro em Paris e às
vezes compro pente Flamengo no
camelô, considero-me parte desses
83% e, por isso, não tenho moral para vigiar ninguém.
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