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MARINA SILVA
Amargo veneno
A ANVISA (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) baniu recentemente o acefato
e o endossulfam, princípios ativos
na fabricação de agrotóxicos, proibidos em vários países por causarem danos ao meio ambiente e à
saúde. Por trás dessa notícia há um
cenário preocupante, pois o Brasil
é hoje o maior consumidor mundial de agrotóxicos.
O uso descontrolado desses produtos está diretamente relacionado a inúmeras doenças fatais, agudas e crônicas, como câncer, disfunções hormonais, má formação
genética, problemas neurológicos
e alergias. Segundo dados de 2007
do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), foram registrados no país
9.670 casos de intoxicação aguda
por agrotóxicos em uso agrícola e
doméstico, com 213 mortes.
Desde 2001, a Anvisa monitora
resíduos de agrotóxicos em alimentos in natura. Em 2008 foram
analisadas 17 culturas, e em todas
foram encontradas amostras com
resíduos acima do permitido pela
lei ou com a presença de substâncias não autorizadas.
No meio ambiente, a prática tem
mostrado que as pragas ficam mais
resistentes, exigindo novas soluções e aumentando o custo de produção. Para o trabalhador rural,
além dos gastos crescentes e contínuos, sua saúde é afetada, a terra fica empobrecida, os animais são
também atingidos e a biodiversidade é destruída, na contramão do interesse coletivo. Não há lucratividade que reponha essas perdas.
Muitos pesquisadores e empreendedores vêm atestando a viabilidade de um modelo de produção agrícola mais sustentável em
termos ambientais e econômicos.
A Embrapa, por exemplo, iniciou
o projeto "Transição Agroecológica: construção participativa do conhecimento para a sustentabilidade", reunindo 25 unidades de pesquisa e 29 instituições em todo o
Brasil.
É preciso investir em tecnologias
que reduzam o uso de substâncias
tóxicas, para o bem da própria agricultura. A tendência global é a de
aumento das exigências ambientais e das restrições relacionadas a
produtos químicos.
A Anvisa está realizando, em seu
site, consultas públicas como parte
do processo de revisão dos dados
toxicológicos de vários princípios
ativos de agrotóxicos. Mesmo realizando um trabalho de inegável interesse público, ela vem sofrendo
forte oposição de alguns setores.
Por isso, o apoio da sociedade é
fundamental, sobretudo o dos produtores rurais. Afinal, eles serão os
primeiros beneficiados com a implementação de novos protocolos e
tecnologias limpas, ferramentas
indispensáveis para que a agricultura brasileira dê o seu grande salto
de qualidade.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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