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Nova oportunidade
Eleitor frustra expectativa de triunfo aclamatório do PT, contempla Marina Silva e dá chance a um debate político mais franco e esclarecedor
Na noite de domingo, as aparições públicas dos três principais
postulantes à Presidência da República deixaram patente o sentimento que predominava em suas
respectivas campanhas pouco depois da apuração dos votos.
Embora conseguisse substancial vantagem sobre seu maior
oponente, a petista Dilma Rousseff e seus aliados ofereceram às
câmeras a imagem irretocável da
frustração. A expectativa da vitória no primeiro turno, que pareceu
certa e até acachapante há algumas semanas, não se confirmou.
Já se sabia da reorientação de
parte do eleitorado, depois dos escândalos revelados pela imprensa, mas o declínio da petista chegou a ultrapassar a margem de erro no Datafolha, o instituto de pesquisa que mais se aproximou do
resultado do pleito presidencial.
Foi eloquente, a propósito, o
quieto abatimento do presidente
Lula, após sua exaltada e onipresente participação como cabo eleitoral da candidata.
Por sua vez, Marina Silva, a
grande contemplada pela migração de votos, apresentou-se com o
sorriso da vitória a transbordar do
rosto. De todos os que nas últimas
eleições tentaram assumir o papel
de terceira via, foi Marina, sem dúvida, a mais bem sucedida.
A líder ambientalista atraiu os
votos de ex-eleitores petistas, insatisfeitos com a corrosão ética do
atual governo; conquistou a simpatia de jovens, artistas e intelectuais interessados na agenda verde; e contou com a adesão de mulheres e religiosos conservadores,
apreensivos com a ambiguidade
dos adversários diante de temas
como a legalização do aborto.
Foi ela o fenômeno eleitoral do
primeiro turno. Neófita em disputas para o Executivo, liderou uma
coligação inexpressiva, relativamente modesta em recursos, com
ínfima presença no horário eleitoral gratuito. Ao merecer 19,3% dos
votos, ganhou importância no desenlace do segundo turno e tornou-se mais do que uma simples
promessa para 2014.
Com efeito, é para a próxima
eleição que a ex-ministra e seu
grupo político estão olhando -e
essa perspectiva poderá afastá-los
de compromisso mais estreito
com qualquer um dos lados.
O tucano José Serra, por fim,
mostrou-se exultante por ver renascer a oportunidade de travar
uma disputa mais aberta e equilibrada com sua rival -chance que
há pouco parecia se esvair numa
campanha vista com reservas pelos próprios correligionários.
As vitórias que o eleitor concedeu ao PSDB em Estados estratégicos como São Paulo e Minas Gerais -e ao Democratas em Santa
Catarina, onde Lula pregou sua
extinção- servem de novo alento
aos oposicionistas.
Dilma Rousseff continua, sem
dúvida, como favorita. Mas não terá a mesma facilidade de se esconder à sombra de Lula e furtar-se ao
confronto de ideias com seu concorrente direto.
Ao chancelar o segundo turno,
o eleitorado demonstrou não ter
suficiente convicção para conceder à pouco conhecida candidata
lulista um triunfo aclamatório.
Conclamou os dois candidatos a
limpar a maquiagem do marketing e propor à jovem democracia
brasileira uma discussão mais séria e madura.
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