São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2010

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FERNANDO CANZIAN

Eles se merecem

Não é ocioso frisar que os maiores perdedores na eleição presidencial de domingo são Dilma Rousseff e José Serra. Por enquanto, por óbvio.
A coisa será diferente quando o tempo correr e o novo mandatário estiver no Planalto com a caneta presidencial à mão. Daí a importância de se pontuar isso agora.
A petista sofreu sua maior erosão justamente entre os que mais se beneficiaram pelas políticas social e econômica no governo Lula, a chamada nova classe C.
Essa população emergente não engoliu a tentativa de desqualificar, até com bravatas contra a imprensa, os desmandos no governo Lula que vieram à tona na reta final.
Saem manchados, e obrigados a um segundo turno, criador e criatura. Pagarão o preço da soberba e da prepotência.
Nos dez dias que antecederam a eleição (considerando os votos válidos estimados pelo Datafolha e o resultado final da votação), Dilma perdeu sete pontos percentuais.
Não à toa, os 19,3% em votos válidos obtidos afinal por Marina é o maior percentual para um terceiro colocado desde a redemocratização (Garotinho, o recordista anterior, teve 17,8% em 2002).
Já Serra não caminhou para o segundo turno. Foi carregado até ele por Marina. Na prática, apesar da recuperação em São Paulo, o tucano apenas oscilou 1,6 ponto percentual para cima (na correlação Datafolha/resultado) nos dez dias finais. Marina subiu de fato: 5,4 pontos.
Portanto, sem a arrancada da candidata verde, cavando votos justamente na trincheira de Dilma, o Brasil já teria hoje uma nova presidente eleita.
Do Índio botocudo e do FHC esquecido ao salário mínimo de R$ 600 (que também aumentaria os elegíveis do Bolsa Família, mas que nunca teve nada a ver com o benefício), não foram triviais os erros da campanha de Serra.
O que mais impressiona é como os "mais preparados", segundo as hostes rivais de PT e PSDB, se furtaram de discutir o que realmente interessa.
É até uma deferência chamar só de covardes as atitudes de Dilma e Serra no debate final da TV Globo, quando ambos se permitiram uma das únicas oportunidades na campanha para o confronto direto.
Diante de um enorme público, porém, eles questionaram, alternadamente, Plínio Sampaio e Marina Silva.
Como se não faltassem problemas que os dois "mais preparados" têm todas as condições de discutir. Câmbio, gasto público, infraestrutura -para citar os mais urgentes.
Pode-se gostar ou não da opinião deles e do remédio de cada um. Isso é outra questão.
O fato é que o país tem o direito de saber suas reais propostas. Qualquer coisa diferente disso é tratar o eleitor como um ser infantilizado e tolo.
Domingo e Marina mostraram que não se trata disso.


FERNANDO CANZIAN é repórter especial.


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