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FERNANDO CANZIAN
Eles se merecem
Não é ocioso frisar que os
maiores perdedores na eleição
presidencial de domingo são
Dilma Rousseff e José Serra.
Por enquanto, por óbvio.
A coisa será diferente quando o tempo correr e o novo
mandatário estiver no Planalto com a caneta presidencial à
mão. Daí a importância de se
pontuar isso agora.
A petista sofreu sua maior
erosão justamente entre os
que mais se beneficiaram pelas políticas social e econômica no governo Lula, a chamada nova classe C.
Essa população emergente
não engoliu a tentativa de desqualificar, até com bravatas
contra a imprensa, os desmandos no governo Lula que
vieram à tona na reta final.
Saem manchados, e obrigados a um segundo turno, criador e criatura. Pagarão o preço
da soberba e da prepotência.
Nos dez dias que antecederam a eleição (considerando
os votos válidos estimados pelo Datafolha e o resultado final
da votação), Dilma perdeu sete pontos percentuais.
Não à toa, os 19,3% em votos válidos obtidos afinal por
Marina é o maior percentual
para um terceiro colocado
desde a redemocratização
(Garotinho, o recordista anterior, teve 17,8% em 2002).
Já Serra não caminhou para
o segundo turno. Foi carregado até ele por Marina.
Na prática, apesar da recuperação em São Paulo, o tucano apenas oscilou 1,6 ponto
percentual para cima (na correlação Datafolha/resultado)
nos dez dias finais. Marina subiu de fato: 5,4 pontos.
Portanto, sem a arrancada
da candidata verde, cavando
votos justamente na trincheira
de Dilma, o Brasil já teria hoje
uma nova presidente eleita.
Do Índio botocudo e do FHC
esquecido ao salário mínimo
de R$ 600 (que também aumentaria os elegíveis do Bolsa
Família, mas que nunca teve
nada a ver com o benefício),
não foram triviais os erros da
campanha de Serra.
O que mais impressiona é
como os "mais preparados",
segundo as hostes rivais de PT
e PSDB, se furtaram de discutir o que realmente interessa.
É até uma deferência chamar só de covardes as atitudes
de Dilma e Serra no debate final da TV Globo, quando ambos se permitiram uma das
únicas oportunidades na campanha para o confronto direto.
Diante de um enorme público, porém, eles questionaram,
alternadamente, Plínio Sampaio e Marina Silva.
Como se não faltassem problemas que os dois "mais preparados" têm todas as condições de discutir. Câmbio, gasto público, infraestrutura
-para citar os mais urgentes.
Pode-se gostar ou não da
opinião deles e do remédio de
cada um. Isso é outra questão.
O fato é que o país tem o direito de saber suas reais propostas. Qualquer coisa diferente disso é tratar o eleitor como um ser infantilizado e tolo.
Domingo e Marina mostraram que não se trata disso.
FERNANDO CANZIAN é repórter especial.
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