|
Próximo Texto | Índice
Verba vã
Intriga o fato de gastos de campanha tão elevados não terem revertido para o debate político nem para esclarecer o eleitor
NÃO FOI pouca coisa: na
disputa pelo governo
paulista, os dois principais candidatos arrecadaram mais de R$ 44 milhões, segundo os registros do
TSE. Para a campanha de José
Serra, do PSDB, foram destinados R$ 26,7 milhões; o candidato
do PT, Aloizio Mercadante, recebeu R$ 17,5 milhões.
A numerologia multimilionária, por si só impressionante,
suscita questionamentos de diversa ordem. Poder-se-ia começar com a questão celebrizada
por Geraldo Alckmin no segundo
turno das eleições presidenciais,
e indagar simplesmente "de onde veio o dinheiro". Ocorre que,
neste tópico, a opinião pública
até que conta com relativa transparência de informações.
Bancos, construtoras, grandes
empresas de infra-estrutura e
mineração respondem, segundo
os dados oficiais, por boa parte
das doações aos candidatos sem
fazer distinções de ideologia,
programa ou coloração política.
A clareza nas relações entre
candidatos e quem os financia é,
nas democracias consolidadas,
uma garantia para que a sociedade civil possa fiscalizar, ao longo
do tempo, o grau de autonomia
de cada governante diante das
pressões dos interesses privados.
Ao que tudo indica, as eleições de
2006 marcaram um relativo
avanço nesse aspecto.
A arrecadação oficial das duas
principais campanhas ao governo paulista cresceu 83% em relação ao pleito de 2002, já descontada a inflação. Foi possível reparar, a olho nu, que os gastos eleitorais em 2006 foram bem mais
reduzidos do que nas disputas
anteriores dada a proibição de
"showmícios", cartazes nas ruas
e atividades de boca-de-urna. Se,
nas eleições anteriores, os gastos
eram maiores e a arrecadação,
menor, só se pode concluir que o
caixa dois vigorava com uma intensidade que, agora, não se detecta com tanta evidência.
Não se trata apenas de saber
"de onde vem o dinheiro", mas
também de saber para onde vai, e
para que serve, o montante arrecadado pelas candidaturas. A
pergunta não incide apenas sobre as eleições ao governo paulista. O que intriga, em meio às cifras milionárias que são mobilizadas, na esfera federal ou na
mais modesta campanha à vereança de uma cidade do interior, é o fato de que esses gastos
não revertem em nenhum progresso para o debate político e
para o esclarecimento do eleitor.
Os candidatos têm acesso garantido ao rádio e à TV, são convidados a participar de debates
nas principais emissoras (muitas
vezes recusam) e contaram com
uma redução do potencial de
gastos, dada a maior rigidez legislativa no tocante à propaganda. Mas é como se continuassem
a ter uma necessidade gigantesca
de recursos, não para divulgar ao
eleitorado suas mensagens e
propostas, e sim para ocultá-las.
A custo altíssimo, o que se enuncia são obviedades sem valor.
O preço da vacuidade, da ausência de propostas e idéias, é alto demais. Alguns doadores talvez obtenham clareza de compromissos dos candidatos; a sociedade, entretanto -que paga
pela festa-, não dispõe das mesmas garantias. E, com isso, é o
sentido democrático e republicano das eleições que termina
contabilizando pesado prejuízo.
Próximo Texto: Editoriais: Dólares de sobra Índice
|