São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Dólares de sobra

ENTRE janeiro e outubro, o superávit acumulado no mercado de câmbio brasileiro somou US$ 35,2 bilhões, um crescimento de 165% sobre o saldo de US$ 13,2 bilhões no mesmo período do ano passado.
Esse resultado decorre do saldo comercial (US$ 44,7 bi), compensado por uma saída (US$ 9,5 bi) no segmento financeiro (investimentos, empréstimos, turismo, juros, lucros etc.).
Diante desse fluxo de recursos, o BC tem comprado perto de US$ 500 milhões por dia, o que acrescentou US$ 28,6 bilhões às reservas internacionais. Mesmo assim, o real se valorizou 7,9% ante o dólar no período.
O BC também reduziu a taxa de juros básica em seis pontos percentuais, de 19,75% em setembro de 2005 para 13,75% agora. No entanto, o juro real (descontando a inflação) cedeu apenas 2,5 pontos. Em setembro de 2005, estava em 12,7%. Em outubro de 2006, era de 10,21%.
Essas altas taxas de juros fomentam a entrada de dólares, seja dos exportadores, seja dos investidores externos. Estima-se uma massa de "dólares virtuais" -oscilando entre US$ 15 bilhões e 70 bilhões-, associada às aplicações estrangeiras no mercado futuro de dólar da BM&F.
Essa tendência permanente à valorização da moeda brasileira tem levado alguns economistas a defender que o Brasil adote medidas para controlar a entrada de dólares. Tais propostas refletem preocupações concretas com as conseqüências do atual arranjo cambial para a indústria.
O diagnóstico desses economistas está correto, mas eles se precipitam ao recomendar o controle de capitais. Enquanto os juros brasileiros estiverem em patamar tão discrepante dos globais, a indicação continuará a ser ortodoxa: reduzir a Selic.


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