São Paulo, sexta-feira, 06 de janeiro de 2006

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INCERTEZA EM ISRAEL

Ninguém sabe se Ariel Sharon vai ou não sobreviver à grave hemorragia cerebral que sofreu anteontem. Ainda que o pior desfecho seja evitado, são pequenas as chances de que o premiê se recupere integralmente das prováveis seqüelas do derrame. No plano político, portanto, os israelenses já debatem abertamente quais serão os cenários na ausência de Sharon.
A incapacitação de um premiê no exercício do cargo sempre lança incertezas no horizonte. No caso israelense, porém, esse efeito é magnificado várias vezes porque o gabinete estava demissionário e Sharon era o favorito para vencer as eleições previstas para o dia 28 de março.
Mais do que isso, o premiê disputaria seu terceiro mandato liderando o recém-criado Kadima ("adiante" em hebraico), partido de centro com o qual pretendia dar um novo rumo às negociações de paz com os palestinos. Sharon não deixa um sucessor inconteste à frente do Kadima.
Virtualmente tudo pode acontecer agora. Embora a idéia de retirar-se da maioria das áreas palestinas mesmo sem um acordo de paz formal -o desengajamento unilateral de que o premiê falava- permaneça independentemente de líderes e dirigentes, praticamente toda a força do Kadima repousava na figura de Sharon.
Resta saber quem será o seu herdeiro e se essa substituição soará convincente aos olhos do eleitor israelense. Os nomes mais mencionados são Ehud Olmert, premiê interino, e Shimon Peres, o ex-dirigente trabalhista e Prêmio Nobel da Paz.
Em um cenário extremo, se os potenciais herdeiros do premiê se engalfinharem pelos despojos, é possível que o Kadima se anule antes mesmo de disputar o primeiro pleito. Legendas tradicionais, que pareciam com os dias contados, como o Likud (de direita, antiga agremiação de Sharon) e, em menor grau, os trabalhistas (centro-esquerda), voltam a ser atores importantes, em condições de competir pelo poder.
Seja qual for o caso, é certo que o processo de paz na região, na melhor das hipóteses, entra em compasso de espera com a doença de Sharon e a ausência de substituto natural.


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