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POLÊMICA NA CULTURA
Desde que foi criado, em 1985,
o Ministério da Cultura padece
de indefinição funcional. A polêmica
atual em torno dos excessos do ministério ressalta certa desimportância do órgão e expõe a rarefação institucional vigente na casa.
Em sabatina promovida por esta
Folha, o poeta Ferreira Gullar criticou de forma polida a política cultural do governo, que acusou de centralista. Em resposta, publicada neste mesmo jornal, o MinC elevou o
tom e acusou o poeta de stalinismo.
Setores da classe artística mobilizaram-se em defesa de Gullar, e o ministro Gilberto Gil enfrenta agora
uma tormenta que traz à tona as incongruências de sua gestão.
A carta do ministério, assinada pelo secretário de Políticas Culturais,
Sérgio Sá Leitão, é desmesurada. Um
órgão do Estado não deveria rebater
críticas -saudáveis e necessárias em
regimes democráticos, frise-se-
nos termos empregados com Gullar.
Inegável é o fato de que o MinC
apresentou inclinações centralistas
na atual gestão. O exemplo mais eloqüente foi a malfadada proposta de
criação, em 2004, da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav). Destinado a regular as atividades do cinema, da televisão e das
telecomunicações, o órgão reforçava
de modo exponencial a ingerência
do Estado sobre a cultura no país.
Some-se a isso o envolvimento insuficiente do ministro com o dia-a-dia de sua pasta. Ocupado em lapidar a imagem do país em viagens e
"happenings" no exterior, ausenta-se do posto em momentos decisivos.
Em que pese o caráter pontual do
episódio polêmico -que também
reacende rivalidades antigas da classe artística-, espera-se que o Ministério da Cultura seja capaz de dele fazer alguma autocrítica para orientar
de modo mais claro suas diretrizes.
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