São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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MUDANÇA NO HC

O HC, o Hospital das Clínicas de São Paulo, pode estar se tornando vítima de seu próprio sucesso. O prestígio da instituição é tão grande que, ao primeiro sinal de doença, o HC é o primeiro lugar a que muitas pessoas acorrem. O resultado se mede em 20 mil ligações por dia para tentativas de marcar consultas com médicos especialistas. Com isso, as filas para atendimento podem chegar a vários meses, o que, obviamente, é ruim para o hospital e para o paciente. Assim, fazem todo o sentido os planos do HC de deixar de atender aos casos mais simples.
O HC é um centro de atendimento terciário. Isso significa que ele deve estar voltado para casos de maior complexidade. Os mais triviais, como uma dor de garganta ou um braço quebrado, devem ser resolvidos em postos de saúde e prontos-socorros. Se a dor de garganta se revelar, após avaliação médica, uma suspeita de câncer, aí, sim, o paciente deve ser encaminhado para o HC ou outro hospital de referência. Quando se onera a rede terciária com milhares de casos mais simples, cai a qualidade dos atendimentos de maior e de menor complexidade.
É claro que entre os planos de reduzir as consultas sem encaminhamento médico e sua efetivação vai uma boa diferença. Há desde problemas políticos, envolvendo os gestores do sistema de saúde, até questões logísticas, como a manutenção do pronto-socorro, que acaba funcionando como uma porta de entrada para os ambulatórios.
Não há dúvida, porém, de que organizar melhor o sistema de saúde da cidade é uma prioridade. Vai contra os princípios mais elementares da racionalidade fazer, por exemplo, com que uma pessoa com câncer espere meses para ver um médico especialista porque ele está ocupado com casos que poderiam perfeitamente ser resolvidos em postos de saúde.
Se o sistema não for melhor organizado, corre-se o risco de o sucesso do HC passar a conspirar contra a própria instituição.


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