São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A Alca e o Brasil

PUEBLA - A reunião da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) que termina hoje caminha para um de dois desfechos: ou um conteúdo mínimo ou um impasse definitivo.
Se der a segunda hipótese, parece altamente improvável que o processo negociador possa continuar. Terá perdido gás, fôlego, interesse.
Além disso, os grupos negociadores ficarão sem instruções e, portanto, sem o que fazer. Como faltam apenas 11 meses para terminar o prazo de encerramento das negociações, e como há eleições nesse período nos Estados Unidos e no Canadá, ficam escassas as chances de o processo ser retomado se Puebla desandar.
Se os delegados conseguirem na undécima hora um acordo, ele será ainda mais "light" do que o próprio Brasil gostaria, na medida em que acesso a mercados (a cereja do bolo) estaria limitado.
O problema é que não dá para dizer, a não ser a partir do "palpitômetro", se uma Alca mínima ou nenhuma interessa ou não ao Brasil.
Aqui em Puebla, os empresários estão divididos, a rigor, em dois grandes grupos (embora haja subgrupos que o espaço não permite detalhar): os do agronegócio estão enfurecidos com o governo porque acham que o Brasil deveria ceder em outras áreas (investimentos, compras governamentais etc.) para poder abrir o mercado norte-americano (e canadense, de quebra) para produtos brasileiros altamente competitivos.
Já Nelson Brasil de Oliveira (Química Fina) vai na direção exatamente oposta: "Ceder nessas áreas impediria a execução de políticas de desenvolvimento". Mais: "Estamos habituados demais a ceder. Nós mesmos não damos o valor devido ao nosso mercado".
No meio do caminho fica Guilherme Duque Estrada de Moraes, também do setor químico. Lembra que, na sua área, não há praticamente barreiras nos Estados Unidos, mas a exportação é pouca porque não há produtos por eles demandados.
Talvez a gente devesse, antes de negociar com os outros, negociar com a gente mesmo, não?


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