São Paulo, sexta-feira, 06 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TENDÊNCIAS/DEBATES

Uma alternativa para São Paulo

GILBERTO KASSAB

Nossa cidade está ficando cínica -sem o sabor helenístico dessa palavra. Seu gigantismo esgarçou sua tecitura social; estamos perdendo nossa alma. O cenário das últimas enchentes aponta nesse sentido. Nossa solidariedade começa e termina em frente à televisão.
O drama de uma mulher cuja família foi atingida, que se ajoelha e pede ajuda, parece, ao cidadão dos Jardins, ocorrer no Afeganistão; a fala emocionada de outra, que sem qualquer colorido político-partidário reclama da prioridade de plantar palmeiras e da inépcia em cuidar dessas catástrofes repetidas, anunciadas e previsíveis, é considerada demagógica por uma prefeita que pertence a um ciclo petista-malufista tão arcaico como nocivo à nossa cidade.
Por outro lado, as eleições em São Paulo tornaram-se o centro de atenção deste país. O presidente Lula já definiu, antes do tempo, seu apoio irrestrito a dona Marta. Alguns dizem que sua recondução é vital para a eleição presidencial de 2006, e que o PT estaria feliz com a possibilidade de o sr. Paulo Maluf ir para o segundo turno.


Não podemos concordar com a seqüência petismo-malufismo no poder


Vários artigos em jornais deste e de outros Estados comentam a questão, induzindo ou refreando candidaturas. Mas a São Paulo onde vivemos, das enchentes e mil outros dramas, tem sido mais discutida pelo povo e, verdade seja dita, pela imprensa do que nas considerações políticas que os analistas e participantes creditados nacionalmente têm feito. Eles estão muito mais preocupados com o efeito das eleições sobre o processo político nacional do que com o que elas efetivamente deveriam produzir sobre nossos problemas.
Em seu artigo "A sucessão municipal paulistana", publicado pela Folha de S. Paulo na edição de 28 de janeiro, o sempre respeitado e conceituado tributarista Ives Gandra da Silva Martins vai nesse caminho. Faz uma leitura acertada sobre a importância do pleito para o jogo político nacional, mas equivoca-se na análise, apequenando o processo político em São Paulo.
A questão da disputa eleitoral pela prefeitura paulistana desloca-se como fato de relevância para o futuro do panorama político nacional. Entretanto não se pode esquecer o essencial, ou seja, que o próximo prefeito vai tomar conta e gerenciar essa cidade, onde há um profundo descompasso entre o seu enorme potencial e a precária qualidade de vida dos cidadãos. Essa questão se chama administração, e não política nacional.
Por isso não podemos concordar com a seqüência petismo-malufismo no poder, fugindo da responsabilidade de apresentar uma alternativa concreta para São Paulo que esteja realmente preparada para administrar com seriedade, modernidade e criatividade.
O PFL quer trabalhar politicamente nessa direção e tem demonstrado isso concretamente em várias capitais do país. Como a própria Folha mostrou recentemente, os prefeitos pefelistas de Salvador e do Rio de Janeiro foram, respectivamente, o primeiro e segundo mais bem avaliados pela população. Nessa mesma pesquisa, a prefeita Marta Suplicy aparece em sétimo lugar, entre nove capitais estudadas.
Em São Paulo, temos nomes fortes e competitivos para concorrer à prefeitura, como José Aristodemo Pinotti e Romeu Tuma, e vamos seguir neste caminho. Ambos têm densidade eleitoral, currículos e experiência excepcionais para participar do processo -com chances reais de vitória- e para fazer dessa disputa a mais pluralista em termos de idéias dos últimos anos. A indicação do nome que representará a sigla PFL nas eleições sairá adiante, mas a decisão do partido de ter candidato próprio é fundamental.
O PFL não vai alimentar, como já tem demonstrado em sua ação no Estado de São Paulo, o que o tributarista chama, em seu artigo, de pragmatismo político, até porque, tanto no âmbito federal como municipal, temos nos posicionado claramente como oposição ao PT, pela forma frustrante e agressiva ao processo democrático com a qual esse partido vem administrando o país. Não podemos permitir que as eleições paulistanas sejam um palco para questões estratégicas de poder. Queremos oferecer a São Paulo a alternativa de uma prefeitura à altura das necessidades da cidade nos seus 450 anos.
Queremos discutir propostas, apresentar sugestões e colocar em questão nossas idéias para governar. Temos demonstrado nossa capacidade administrativa em vários pontos do país e vamos levar para o confronto eleitoral esses ideais e essa ideologia.

Gilberto Kassab, 43, economista e engenheiro civil, é deputado federal pelo PFL-SP e vice-presidente estadual da legenda.


Texto Anterior:
TENDÊNCIAS/DEBATES
Ramez Tebet: O Estado adequado

Próximo Texto:
Painel do leitor

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.