São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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Quem tem medo de mister Soros?

JOSÉ SARNEY

Um dos aspectos mais dramáticos da mundialização do mercado financeiro é a debilidade que restou aos Estados nacionais, impotentes diante de ameaças especulativas. Há um superestado, acima de todas as soberanias, que é a globalização, e dentro desta, os seus controladores, que adquiriram a função de chefes de governo e, mais do que estes, dispõem de um poder de fogo que pode aniquilar qualquer interlocutor. "Quantas divisões tem o papa?"
Era como, pragmaticamente, os senhores da guerra avaliavam apoios. Hoje, na era dos mercados financeiros globalizados, a guerra é outra, as divisões militares desapareceram, e surgiram em seus lugares moedas, Bolsas e outros valores. Os novos interlocutores do poder mundial já fizeram vítimas. Exemplos: a URSS, os famosos Tigres Asiáticos, Tailândia, Filipinas, México, Malásia, etc. E o Japão que se cuide. A insegurança econômica internacional é absoluta. A pergunta agora é: "Quantas divisões tem Soros?" Todas.
Dentro desse quadro, ele é um "global player", um dos presidentes poderosos deste Estado supranacional, que amedronta as nações, faz tremer governos e países: mister Soros, o megainvestidor, megaespeculador!
No ano de 1990 houve uma queda-de-braço entre o Banco da Inglaterra, numa aposta contra o poder de fogo financeiro do governo inglês. Quem ganhou e levou o banco à falência? Georges Soros (Folha, 29/01/97).
O governo malaio, sem subterfúgios, atribuiu a bancarrota financeira da Malásia ao senhor Georges Soros, que tinha desencadeado manobras especulativas contra a estabilidade econômica do país. Igual acusação foi feita pelas Filipinas, Hong Kong, Coréia.
"É com apreensão que leio nos jornais que ele desembarcou na América Latina, comprando ativos baratos na Argentina e no Brasil. O nosso presidente mesmo, Fernando Henrique, reconheceu-lhe a força e "status", sentando-se com ele em Davos para discutir a economia mundial. O presidente da Coréia do Sul foi mais longe: chamou-o para pedir clemência.
Dizem os jornais que ele é hoje um dos donos da Vale e deseja jogar duro. Sempre afirmei que a Vale iria parar em mãos estrangeiras. Não avaliei Georges Soros. Agora, por intermédio do Banco Liberal, do Banco Opportunity, Soros deseja ocupar e controlar a Vale e, para isso, precisa do apoio dos fundos brasileiros do governo, leia-se Previ (Fonte: Folha, caderno Dinheiro, 29/01/97). Fico arrepiado, ainda mais quando se sabe que um dos executivos de Soros é brasileiro, Armando Fraga, ex-diretor do Banco Central, que anuncia em entrevista a Cosette Alves que a tempestade pode chegar aqui.
Nada de tão significativo li nos últimos tempos contra a estabilidade do que os olhos de Soros voltados para o Brasil, começando pela Vale, dando palpites e dialogando com o governo. É o que se chama ameaça potencial.
Mas isso não é nada, dirá o ministro Malan. "Quem tem medo de Georges Soros, com os nossos indicadores econômicos?" Respondo: eu, o México, as Filipinas, a Malásia, a Coréia, a Inglaterra, os EUA e as Bolsas e as economias do mundo inteiro. Algo mais?


José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.



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