São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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Painel do leitor

Educação
"A série sobre educação, inaugurada na edição de 1/2, cria um oportuno espaço de discussão. Gostaríamos de ocupá-lo, discutindo a reportagem de 2/2 sobre 'Criança começa a aprender ao nascer'.
A reportagem de Daniela Falcão afirma que, ao entrar na pré-escola, metade do desenvolvimento do cérebro do bebê já está concluída. Assim, as experiências vividas pela criança, do nascimento aos seis anos, determinarão em grande parte seu futuro emocional e intelectual. Mostra como os pais e educadores podem estimular as crianças desde os primeiros dias de vida de forma a favorecer o desenvolvimento dessas habilidades. A reportagem é importante e oportuna, porém o conjunto de dicas que dá para os pais e os educadores parece-nos poder levar a alguns mal-entendidos.
As dicas de como estimular as crianças em cada fase do desenvolvimento para aproveitar as chamadas 'janelas de oportunidade' reduzem muito os tipos de atividade a serem feitos com as crianças, fundamentadas em um conceito errado de estimulação, enfatizando sobretudo aquelas com características escolares, deixando de lado as lúdicas. Ademais desconhecem ou omitem o papel ativo que a criança tem em seu desenvolvimento, como sabiamente assinalado por Jean Piaget.
Na reportagem predomina a visão cultural das camadas médias ocidentais, que valorizam acima de tudo o desenvolvimento cognitivo, particularmente aquele que prepara a criança para a escola e que desde pequena a treina para ter sucesso escolar, sobrecarregando sua rotina com várias aulas.
Prover os bebês com ambientes e rotinas estruturadas, que favoreçam sua exploração visual, tátil, motora, com brincadeiras diversificadas, interações com vários parceiros, seja em casa seja em ambientes coletivos de qualidade, sob o apoio, estímulo e supervisão afetuosa de familiares ou educadores, constitui a melhor forma de promover o estabelecimento de sinapses nos primeiros anos de vida."
M. Clotilde Rosseti Ferreira e Carmem Craidy, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (Ribeirão, Preto, SP)

Esclarecimento
"A reportagem 'Lavrador trabalha 28 dias sem descanso', do jornalista Luís Costa Pinto, publicada na edição de 18/1, na pág. 1-12 (Brasil), abriga uma mentira em seu texto.
A afirmação de que Valdir Moreira 'há um ano e meio colhe laranjas em Araraquara para a Cutrale' é mentirosa. A Sucocitrico Cutrale Ltda. não tem nenhum contrato de prestação de serviço, na região de Araraquara, com a Cooperativa de Trabalhadores Rurais e Afins de Matão, a que o sr. Valdir Moreira estaria vinculado. A Sucocitrico Cutrale Ltda. não tem e não teve qualquer contrato de prestação de serviços com qualquer outra prestadora de serviços que tivesse utilizado o labor do sr. Valdir Moreira em Araraquara. Também não se utilizou dos serviços do sr. Valdir Moreira, por qualquer forma que seja, para a colheita de laranjas em Araraquara. A Sucocitrico Cutrale Ltda. nem sequer tem fazenda de produção de laranjas, ou de qualquer outro produto, no município de Araraquara (SP)."
Márcio Ramos Soares de Queiróz, diretor jurídico da Sucocitrico Cutrale Ltda. (Araraquara, SP)
Resposta do jornalista Luís Costa Pinto - O lavrador Valdir Moreira e o presidente dos trabalhadores rurais de Araraquara, Hélio Neves, afirmaram que a colheita feita em laranjal de Araraquara teve sua produção destinada à Sucocitrico Cutrale.

Ministério Público
"Como informou a jornalista Cláudia Trevisan, em reportagem publicada na Folha em 4/2, o presidente da comissão examinadora do último concurso de ingresso no Ministério Público do Estado foi Pedro Franco de Campos, ex-secretário da Segurança do governo Fleury, em cuja gestão ocorreu o massacre do Carandiru. Sua Excelência continuou na carreira e seu nome nem chegou a ser incluído nos inquéritos destinados a apurar as responsabilidades criminais. Agora, findo o concurso, todos os componentes da banca examinadora fazem lobby junto aos candidatos que eles aprovaram para que votem em determinados nomes para a formação da lista da qual sairá o futuro procurador-geral de Justiça. É pouco provável, como se percebe, que os examinadores não tenham se interessado em saber a orientação política dos candidatos que examinavam. Se ainda subsistia alguma dúvida quanto à necessidade de instaurar o controle externo do Ministério Público, esses fatos lamentáveis acabaram por dissipá-la."
Fábio Konder Comparato (São Paulo, SP)

Morte de bebês
"Temos assistido, impressionados, mortes de recém-nascidos em hospitais da rede pública do Estado do Rio de Janeiro. E constatamos que tão vergonhoso quanto a morte é o jogo de empurra-empurra pela responsabilidade entre prefeitura, secretarias de saúde e governo.
A população paga impostos e CPMF para fazer jus a um de seus direitos primários: um bom acompanhamento médico durante a vida. Tudo poderia funcionar muito bem, mas os governantes do Rio pagam mal a seus médicos, demitem os seus profissionais, privatizam o serviço público e são incapazes de realizar suas tarefas.
O profissional da saúde precisa ser valorizado, bem como o da educação. E o que se tem feito com a saúde pública é muito semelhante ao que andam fazendo com a educação: ambas são tratadas como necessidades de quinta categoria. Se a primeira tem decretado a morte física das crianças, a segunda decreta sua morte intelectual."
Teresinha Oliveira Machado da Silva (Rio de Janeiro, RJ)

Personalidades opostas
"Itamar e Ciro se merecem. Enquanto o primeiro prima pela eterna indecisão, o segundo já muda de opinião de um dia para o outro. É muita derrapagem para dois candidatos à Presidência. Só rezo para que o Plano Real continue firme, caso contrário aparecerão lideranças do 'tipo Collor' que irão solucionar todos os problemas do país."
Atílio Antônio Zonta (Blumenau, SC)


Brasil à venda
"Ao ler a declaração do ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, 'Há crise de excesso de terra', na edição de 1/2 da Folha, entrei em pânico. Esse governo está querendo vender também um pedaço do Brasil?"
José Angeli Sobrinho (Curitiba, PR)

Elite sem futuro
"Se não há emprego, não há consumidores. Se não há distribuição de renda, não há consumo. Socializando-se o capital, todos participam do consumo e a economia cresce, o que significa mais empregos, mais arrecadação, mais poupança etc.
Elite brasileira, vê se deixa a 'burrice' de segurar privilégios, porque no futuro seus filhos e netos serão cidadãos sem oportunidades, fracos e oprimidos pelos globalizadores."
Zeni Pinheiro (Rio de Janeiro, RJ)



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