|
Próximo Texto | Índice
AMEAÇA DE VETO
Num lance decisivo para a crise iraquiana, os ministros das
Relações Exteriores da França, da
Rússia e da Alemanha anunciaram
ontem em Paris, após um encontro
de emergência, que não permitirão
que o Conselho de Segurança (CS)
da ONU aprove uma nova resolução
que autorize a guerra contra Bagdá.
França e Rússia, como membros
permanentes do CS, têm poder de
veto. Poderiam, portanto, bloquear a
resolução, proposta por EUA, Reino
Unido e Espanha, que declara o Iraque em violação material de decisões
da ONU, abrindo assim caminho para a intervenção militar.
Essa foi a mais clara indicação de
que Paris e Moscou eventualmente
utilizarão seu poder de veto. Até agora, a estratégia dos EUA era obter os
nove votos do CS necessários para
aprovar a nova resolução e esperar
que nenhum membro permanente
do Conselho apusesse seu veto.
Com efeito, não seria insignificante
o ônus político de opor-se aos projetos imperiais da única superpotência
do planeta. Atuando conjuntamente,
França, Rússia e Alemanha esperam
diluir o peso dessa decisão, bem como atrair para o bloco de países contrários à guerra outros membros do
CS que ainda estejam indecisos em
relação à nova resolução.
A primeira reação dos EUA foi a de
relativizar a importância do anúncio
franco-russo-germânico. A Casa
Branca disse que continua confiante
na aprovação da nova resolução. Mas
o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, voltou a afirmar
que, se os EUA não obtiverem o aval
das Nações Unidas, agirão sem ele.
A situação é delicada e parece inevitável que a ONU saia fraturada do
episódio. Ainda assim, a ruptura
-que não precisa ser definitiva- é
preferível à simples capitulação diante de Washington. Se a comunidade
internacional está majoritariamente
contra a guerra, tem o dever de dizê-lo no foro adequado, que é o CS. Não
fazê-lo seria condenar a ONU a permanecer como um títere nas mãos
da superpotência americana.
Próximo Texto: Editoriais: NOVA TURBULÊNCIA Índice
|