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NOVA TURBULÊNCIA
Arrasada por violenta crise
após abandonar a conversibilidade entre o peso e o dólar, a economia argentina vem dando sinais de
recuperação. A inflação perde ímpeto: em fevereiro os preços subiram
apenas 0,6% no varejo e 0,4% no atacado. E a produção industrial, depois
de cair muito, cresce há meses.
A sensação de que o pior ficou para
trás, no entanto, sofreu abalo. Ontem, a menos de dois meses do primeiro turno da eleição presidencial,
a Argentina se viu diante de nova turbulência. A Suprema Corte proferiu
sentença em que considerou inconstitucional a medida que, no início do
ano passado, converteu para pesos
os depósitos bancários e as dívidas
antes denominados em dólares.
Embora a sentença se refira apenas
a processo aberto pela Província de
San Luis, que deseja reaver depósito
de US$ 247 milhões retido no Banco
Nación, está aberto um precedente
que poderá vir a beneficiar de 350 mil
a 400 mil depositantes.
O Banco Central da Argentina calcula que essas demandas envolvam
US$ 9 bilhões; fontes privadas estimam que o valor pode chegar ao dobro. O custo da "redolarização" recairia sobre o governo, cujas contas
já se encontram debilitadas.
É um elemento a mais de incerteza
na Argentina. Não se sabe quais serão as implicações da sentença. Como também os créditos concedidos
com denominação em dólares foram
convertidos para pesos, os credores
poderão requerer tratamento isonômico -o que prejudicaria mais de
800 mil devedores que haviam sido
beneficiados pela "desdolarização"
das suas obrigações.
Nem sequer há certeza de que a
sentença é definitiva. Os juízes que
foram voto vencido na decisão de ontem contestam sua legalidade e afirmam que o governo poderá recorrer.
Um dos ingredientes centrais da
crise argentina diz respeito ao esfacelamento do tecido político e institucional. Ilustra isso o fato de que nenhum candidato presidencial atinge,
hoje, 20% das intenções de voto. E
agora a decisão do Supremo, reafirmando a instabilidade jurídica, será
um elemento a mais a dificultar a superação da crise.
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