São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Os novos disfarces do anti-semitismo
JACK TERPINS
Como uma história recorrente e um mal acometido de insidiosa recidiva, os judeus são, de novo, a "bola da vez". Disso se aproveitam os que têm o anti-semitismo de forma latente. Os eventos do Oriente Médio viraram uma espécie de festa midiática, o único conflito da Terra com som e imagem diários e do qual o sionismo é o vilão ideológico preferido. Como a globalização banalizou conceitos e colocou no mesmo balaio o que antes era motivo de guerras e conflitos em assembléias estudantis, restou para os ataques de conveniência o movimento que deu origem ao Estado de Israel, o sionismo, e os homens que dele fazem parte, os judeus. Assim, o anti-sionismo serve para mascarar o anti-semitismo: ou seja, como Israel é o lar nacional judaico, nada melhor do que varrê-lo do mapa para excluir os judeus do convívio dos povos. Pode até ser eficiente, pois, de um só golpe, sataniza-se o judeu e demoniza-se Israel. Este é o momento sempre propício para a erupção de manifestações que pretendam rever a história e de que são caso exemplar as publicações de um modo geral, como livros, no Brasil inclusive, tentando desmentir filmes, testemunhos, documentos, confissões, julgamentos e condenações de gente culpada pelos horrores da Segunda Guerra de que foram vítimas os judeus, ciganos, comunistas, homossexuais e quem mais os nazistas pudessem matar. É verdade que, após a guerra, houve outras matanças, como as perpetradas pelo Khmer Vermelho no Camboja, a selvageria interétnica na África; mas nada comparado à eficiência industrial de uma verdadeira linha de montagem das máquinas da morte nazistas, determinadas a aniquilar os judeus como povo, como cultura e como civilização. Toquem os sinos de alerta. O perigo do anti-semitismo é um risco para toda sociedade democrática. Os anti-semitas aproveitam qualquer momento para afrontá-la. Sessenta anos depois do início desse assassinato em massa, que sepultou vidas e esperanças e recebeu o nome de Holocausto, os sobreviventes que eram testemunhas dão lugar aos historiadores. O tempo vivido é substituído pelo tempo lembrado. Aí mora o perigo de que é forma acabada o editor Siegfried Elwanger Castan, do Rio Grande do Sul. Para negar o Holocausto, Siegfried procura abrigo nas sagradas garantias constitucionais da liberdade de expressão ou nos desvãos dos debates a respeito de raça, enquanto pratica aquela distorção sempre pautada pela ignorância e pela má-fé. Ao se esforçar para apagar a falta, Castan pretende abrir caminho para a repetição dos erros. E é em um ambiente como esse, de malcheiroso anti-semitismo e descarado desprezo pela verdade histórica, que proliferam os Elwangers. Como se lê, não faltará serviço à nova Secretaria Nacional de Combate ao racismo. Jack Terpins, 54, engenheiro, é presidente da Confederação Israelita do Brasil e do Congresso Judaico Latino-Americano. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Carlos Américo Pacheco: Conhecimento e política tecnológica Índice |
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