São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Conhecimento e política tecnológica
CARLOS AMÉRICO PACHECO
Os rumos da política pós-crise mexicana de 1996, as querelas sobre o Ministério da "Produção", em 1998, e o sepultamento do "desenvolvimentismo", em 2003, são o retrato da supremacia do Banco Central. O problema da opção vencedora é sua incompatibilidade com o crescimento. E o problema atual é a inexistência de alternativas: ou um "stop and go" modesto, a depender da conjuntura internacional, ou uma crise movida pela frustração. Por tudo isso, é central formular políticas de suporte à competitividade e à inovação que ampliem o saldo comercial. A política de C&T tem um papel nesse desafio. Faz parte, por ação ou omissão, da política econômica. É aqui que ela se fortalece e ganha expressão. Isolada, circunscrita à agenda de seus atores mais imediatos, cai no esquecimento. Torna-se secundária e mingua. Exemplos não faltam. A reserva de contingência dos fundos setoriais dará em 2003 uma "contribuição" ao ajuste fiscal de R$ 595 milhões. A programação orçamentária cortou (ilegalmente) mais R$ 354 milhões do limite financeiro do Ministério da Ciência. Tudo isso apesar dos gastos em C&T estarem "protegidos" pela Lei de Diretrizes Orçamentárias. Esses valores representam cerca de 30% do orçamento -um percentual alto, mesmo para anos difíceis. Isso depois de o Congresso ter reafirmado que não se poderia contingenciar gastos em C&T. O certo é não esperar a solução macro e avançar na política tecnológica. Há que ofertar crédito a juros baixos, utilizando os recursos orçamentários para equalização e os mecanismos que já existem. Capitalizar a Finep e ampliar seu "funding". Dar um destino nobre à reserva de contingência dos fundos setoriais. O Tesouro já acumula R$ 800 milhões, e neste ano serão mais R$ 600 milhões, que poderiam ser aportados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento, sem impacto no superávit primário, ampliando a oferta de crédito. Novos fundos e novas parcerias devem ser pensados, com ênfase em serviços e parques tecnológicos. Há que dar urgência à regulamentação da lei 10.637, que incentiva as atividades de P&D (pesquisa e desenvolvimento) empresariais. E é fundamental votar a Lei de Inovação, que está no Congresso, apesar de o Executivo ter retirado o pedido de urgência no exame da matéria. Parcerias públicas e privadas desempenham papel crucial na política de C&T. Se os exemplos nacionais são insuficientes, é possível se inspirar na experiência internacional. Não se pode é praticar uma política de C&T calcada na oferta, retrocedendo décadas. A formação de recursos humanos é fundamental, mas é absolutamente insuficiente, pois atinge marginalmente a empresa, onde se faz inovação. Isso não significa orientar a política unicamente pela demanda. Significa articular os diversos atores. Essa é a tarefa básica, e não é fácil. Essa agenda é urgente. O tempo é, na realidade, o recurso mais escasso do governo. E o tempo para construir é sempre o mais escasso. Carlos Américo Pacheco, engenheiro pelo ITA, doutor em economia, é professor do Instituto de Economia da Unicamp. Foi secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (1999-2002). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Jack Terpins: Os novos disfarces do anti-semitismo Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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