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MAU COMEÇO
O primeiro tiro disparado pelo
presidente George W. Bush na
recém-iniciada campanha pela reeleição saiu pela culatra. A peça publicitária republicana inaugural, que foi
ao ar anteontem em 20 Estados, causou uma onda de protestos de parentes das vítimas dos atentados terroristas, que não gostaram de ver imagens do 11 de Setembro vinculadas a
uma campanha política.
Os responsáveis pelo marketing de
Bush são, é claro, profissionais. Submeteram os anúncios a cuidadosa
análise antes de veiculá-los. Julgaram-nos aptos a ser bem assimilados. O que eles talvez não tenham
antecipado é que a imprensa, notadamente os jornais de oposição, iria
pedir aos familiares de vítimas dos
ataques que comentassem os reclames. E os parentes, como era até certo ponto previsível, julgaram que os
anúncios conspurcavam a memória
de seus entes queridos.
Na interpretação dos familiares, a
morte -em especial mortes trágicas, como as que se produziram sob
o 11 de Setembro- exige um decoro
que não pode ser quebrado pela vulgaridade de uma campanha eleitoral.
A percepção de que um político estaria se prevalecendo da dor alheia é
o que explica reações fortemente
emocionais, como a do cidadão Ron
Willett, que perdeu um filho nos ataques terroristas. Ele se disse tão irritado com o presidente que seria capaz de "votar antes em Saddam Hussein do que em Bush".
É bastante provável que, sem o grito lançado pelas famílias, os comerciais republicanos tivessem cumprido seu desígnio original, que era o de
sugerir que tempos difíceis como os
atuais não são propícios para a troca
de liderança. O fato, contudo, é que
os parentes foram ouvidos pela imprensa e sua mensagem irradiada
nacionalmente.
Bush perdeu com a repercussão
negativa. Lances como esse dão a
medida do clima acirrado em que vai
se travando este início de campanha.
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