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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Ao contrário
SÃO PAULO - Ao se atrapalhar com a batata quente do "Waldogate" e ao
tentar, de forma desastrada, seguir o
tradicional manual de medidas a serem tomadas em caso de crise (convocar aliados de prestígio intelectual
para dourar a pílula, criar fatos artificiais, lançar balões de ensaio e sufocar CPIs), o governo petista vai sepultando mais uma esperança que o cercava: a de que seria politicamente
menos igual aos que o antecederam.
Tudo indica que o Planalto conseguirá abafar novos desdobramentos
do caso, mas não há como afastar a
sensação de que suas perspectivas se
tornaram mais sombrias do que
eram dois meses atrás.
Depois de ter usado muito de seu
cacife inicial na tentativa de "construir credibilidade", adotando a
agenda dos mercados e uma política
monetária bastante conservadora, o
governo terminou 2003 podendo contrapor alguns indicadores satisfatórios ao previsível desastre da paralisia econômica.
Se as balas perdidas do Banco Central produziram danos desnecessários, a trajetória dos juros estava em
queda e coordenava as expectativas
para um ano de retomada do crescimento. Num ambiente menos pressionado, as correções de rumo afiguravam-se mais factíveis. O governo
mal ou bem preservara prestígio político e, com ele, ainda uma boa margem de manobra. Em resumo: com
todos os erros grosseiros, com toda a
inépcia administrativa e com todas
as frustrações quanto à realização de
promessas de campanha, parecia
que as coisas ainda poderiam ser de
alguma forma "salvas" em 2004.
Foi essa possibilidade que se estreitou. Se a autonomia política encolheu, o ânimo dos agentes econômicos se abateu. Não apenas pelas conseqüências do episódio, mas também
por ele ter coincidido com uma mudança no cenário: temendo descumprir a meta de inflação de 5,5% para
este ano (que já se revelou problemática), o BC segurou a queda dos juros. Ou seja, na política e na economia, o ano começou ao contrário.
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