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Mais retrocesso
Conflito comercial com Argentina mostra que 18 anos de Mercosul não bastaram para assegurar o livre comércio no bloco
O CONFLITO comercial
entre o Brasil e a Argentina, aguçado pelo
ambiente global de retração da atividade econômica,
teve novos desdobramentos. Dada a propensão dos argentinos
para adotar, por meio de decisões unilaterais, barreiras à entrada de exportações brasileiras,
o governo Lula
continua descartando retaliações e se inclina a propor
que ao menos
tais barreiras
sejam pactuadas entre os
dois países.
As autoridades cogitam
admitir que as
vendas brasileiras de certos
bens -como
eletrodomésticos, têxteis e
calçados - fiquem sujeitas
a limitações quantitativas. Essas
cotas poderiam ser negociadas
entre os empresários dos dois
países, sob a mediação dos respectivos governos.
Em contrapartida, seriam suspensos os mecanismos que hoje
emperram a entrada desses produtos no mercado argentino. É o
caso da demora extraordinária, e
obviamente deliberada, na liberação de licenças de importação.
O governo brasileiro vê oportunidade, ainda, de debater com
a Argentina um mecanismo comum de defesa comercial, destinado a deter a invasão de exportações chinesas. Não se sabe qual
seria o desenho dessa defesa
conjunta -mas a China, ao aderir tardiamente à Organização
Mundial do Comércio, aceitou
sujeitar-se a salvaguardas do tipo, impostas por outros membros da organização.
O episódio, embora ainda sem
desfecho, suscita certo incômodo. Denota o quanto ainda é precário o arranjo do Mercosul e de
sua extensão ao restante da
América do Sul -precariedade
que leva o Brasil a ver-se, volta e
meia, chantageado por sócios e
parceiros menores.
Na condição
de sócio de
maior porte e
com economia
mais sofisticada, é natural
que o Brasil arque com boa
parte do ônus
da integração
regional. É estranho, sob esse ponto de
vista, que o saldo comercial
entre Brasil e
Argentina
mantenha-se
desfavorável
ao vizinho desde 2003.
Se é natural, de todo modo, que
as maiores concessões partam
do lado brasileiro, tal sacrifício
só fará sentido se tiver como
contrapartida a liberalização
progressiva do ambiente de negócios na região. Entretanto, o
contencioso com a Argentina é
mais um elemento a demostrar
que, 18 anos após a fundação do
Mercosul, nem sequer o objetivo
básico do bloco, o livre comércio
entre seus integrantes, está imune a sabotagens e retrocessos.
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