São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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DELINQUENTES POLICIAIS

Está solucionado o mistério do desaparecimento, na Quarta-Feira de Cinzas, de três jovens em São Vicente, no litoral paulista. Seus corpos foram encontrados anteontem. Segundo todos os indícios, eles foram assassinados a sangue-frio por um grupo de policiais militares.
A PM mobilizou 400 policiais para a localização das vítimas e, antes que isso ocorresse, já havia prendido sete suspeitos de terem participado da bárbara execução.
Com todos os índices de criminalidade em alta -o que se explica em parte pela miséria e pelo desemprego, agravados agora pela crise-, a população se vê novamente desprotegida e, mais grave, ameaçada por membros de instituição que deveria zelar por sua segurança.
Não há mais como tolerar que episódios atrozes como esse continuem marcando a atuação da polícia. Ao que tudo indica, a grande repercussão do caso da favela Naval, em Diadema, não foi suficiente para reorientar a conduta de certos maus elementos que jogam por terra a tentativa do atual governo de enquadrar a polícia em padrões civilizados.
Registre-se que, apesar dos esforços do governo, no ano passado a PM matou, em circunstâncias diversas, 466 pessoas, mais que as 405 no ano anterior e que as 368 em 1996. São dados da Ouvidoria da Polícia. Em outro levantamento, ela constata que boa parte dos policiais envolvidos em mortes eram objeto de boa avaliação por parte de seus superiores.
Aparentemente, os policiais são avaliados com maior ênfase pelo comportamento nos quartéis e bem menos pelo desempenho nas ruas. Não seria a única distorção estrutural da PM. Outro dado estranho dá conta de que nos últimos oito anos o número de suicídios (186) foi mais elevado que o número de mortos (102) em confronto com bandidos.
É portanto urgente que se procure apurar os motivos que levam a tantos desajustes.


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