São Paulo, Sábado, 06 de Março de 1999
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Enfrentar o desemprego

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A Campanha da Fraternidade sobre o desemprego marca uma urgência para o país e vem suscitando crescente interesse nas comunidades em busca de soluções viáveis. Entre os muitos resultados desses grupos de reflexão, gostaria de chamar a atenção para o consenso sobre duas conclusões.
A primeira refere-se à necessidade de melhor qualificação profissional.
A moeda estável trouxe, sem dúvida, inúmeras vantagens e já tínhamos nos habituado com a força do real. A perda de seu valor para o dólar abre, no entanto, perspectivas para a exportação e, por outro lado, pode beneficiar os produtos nacionais, no mercado interno, uma vez que o preço mais alto dos produtos importados não os torna competitivos. Mas tanto a expectativa de exportação como a boa comercialização dos produtos nacionais requerem a melhoria de qualidade do que fabricamos.
O Brasil já vem alcançando em algumas áreas níveis elevados de qualidade. Considere-se, por exemplo, que os aviões da Embraer e setores da informática são apreciados no mundo inteiro. O urgente agora é assegurar a obtenção de qualidade nos outros setores a fim de atender bem o povo e conseguir boas condições de exportação. Essa meta inclui dois benefícios: a criação imediata de novos empregos na área educativa, proporcionando como investimento social cursos para o aprimoramento técnico de milhões de trabalhadores e, como é óbvio, a expectativa da entrada deles no mercado de trabalho. Cabe à comunidade auxiliar sobretudo os jovens para que recebam o preparo profissional adequado.
A segunda conclusão que vai sendo aceita nas comunidades é a conveniência de incentivar a cooperativa de trabalho, superando o esquema de dependência entre patrão e operários pela relação de parceria entre os que se associam para empreender juntos os projetos de atividades. Essas experiências têm se multiplicado na área urbana e rural e poderão, a curto prazo, garantir condições dignas de emprego a uma parte notável da população.
O incentivo à qualificação profissional e o desenvolvimento dos mais variados tipos de cooperativas e formas associativas colocam em evidência, entre outros, o benefício das "Escolas-Família-Agrícola", EFA, que oferecem a capacitação de jovens no campo, auxiliando-os a conhecer novas tecnologias. A EFA tem ainda o mérito de evitar o êxodo rural e de orientar os formandos para assumir trabalhos em comum, animando-os à criação de futuras cooperativas.
Nos dois últimos dias, estive em Riacho de Santana (BA), a convite das "Escolas-Família-Agrícola", acompanhando Ernesto Olivero, apóstolo dos jovens em Turim, que tem cooperado em centenas de projetos em nosso país e promotor da campanha pela paz mundial. A chuva caindo no sertão desperta neste ano a esperança de boas colheitas.
O importante, no entanto, era a homenagem ao padre Aldo Luchetta, falecido, há um ano, em acidente de carro, missionário italiano durante 32 anos no Espírito Santo e na Bahia, pároco e fundador de 15 escolas e centenas de comunidades nas cidades vizinhas. Sua memória está muito presente no coração do povo do sertão, agradecido pela pregação do Evangelho e pela incansável dedicação em promover, pela educação e trabalho qualificado, condições dignas de vida para todos. Seu exemplo nos ajuda a confiar em Deus, sem medo das dificuldades, e a enfrentar o desafio do desemprego.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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