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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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EPIDEMIA GLOBAL?

O surgimento , na semana que findou, dos primeiros casos suspeitos de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) em São Paulo coincide com um agravamento do surto internacional da doença. Já foram registrados mais de 2.300 casos da moléstia em 18 países; mais de 80 infectados morreram devido a complicações pulmonares.
Embora a taxa de mortalidade da Sars não seja das mais elevadas -entre 3% e 4%-, o simples fato de a doença poder revelar-se fatal e as dúvidas acerca dos mecanismos de contágio bastaram para gerar preocupação em todo o mundo e até algum pânico na Ásia, que está no centro da epidemia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), pela primeira vez em seus 55 anos de existência, recomendou a viajantes que evitassem uma parte do mundo (Hong Kong e a Província de Cantão, na China).
O prestigioso "New England Journal of Medicine" publicou um editorial extraordinário assinado por Julie Gerberding, diretora dos CDCs (vigilância epidemiológica dos EUA), no qual a autora elogia a rapidez com que laboratórios e serviços médicos reagiram à Sars, mas sugere que pode ser tarde demais para evitar uma "pandemia global".
Com efeito, a doença tanto pode desaparecer nas próximas semanas tão misteriosamente como surgiu como pode tornar-se mais uma moléstia a fustigar a humanidade. É impossível prever hoje com segurança o que acontecerá.
As principais suspeitas dos pesquisadores quanto ao agente causador da Sars recaem sobre um até então desconhecido coronavírus, da mesma família de vários dos vírus que causam resfriados comuns. Mas não se descarta a co-infecção por outros vírus ou até por bactérias, o que ajudaria a explicar por que algumas pessoas -e mesmo algumas populações- parecem mais suscetíveis à moléstia do que outras.
Outro aspecto não-negligenciável do surto de Sars são seus impactos econômicos, principalmente na Ásia. Os setores mais afetados até o momento são o turismo e a aviação civil. A companhia holandesa KLM divulgou uma mensagem afirmando que os estragos provocados pela doença já superam os ocasionados pela guerra no Iraque.
Vários eventos comerciais e competições esportivas previstos para ocorrer na Ásia já foram cancelados. A imposição de quarentenas a pessoas que tenham tido contato com doentes provoca faltas ao trabalho. Em Hong Kong, a polícia está procurando cerca de 200 pessoas que fugiram da quarentena. Agências de avaliação já fazem previsões de crescimento menor no trimestre para alguns dos países mais atingidos.
No Brasil, até o momento, o pior parece ter sido evitado. Apesar de problemas de comunicação e divergências entre órgãos sanitários, os casos suspeitos foram rapidamente isolados. Se a Sars, contudo, evoluir para uma epidemia global, o país certamente não passará incólume.



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