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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A bandeira e a mortalha

RIO DE JANEIRO - Outro dia, em texto para a Pensata (Folha Online), expressei a tristeza (a minha, evidentemente) pela histeria generalizada contra os Estados Unidos. É bem verdade que há motivos de sobra para a queima das bandeiras com listras e estrelas, aliás, uma bandeira bonita, bem diagramada, com excelente combinação de cores.
Além da bandeira que aprendemos a admirar e a respeitar, não acredito que haja um único habitante do planeta Terra que não deva, direta ou indiretamente, alguma coisa aos Estados Unidos. Citei a lâmpada elétrica, o gramofone, a dupla Fred Astaire e Ginger Rogers e poderia citar mil outros produtos que nos melhoraram a vida e o humor.
Justamente por isso, pelo respeito que temos àquele pedaço de pano que tanto admiramos, é dolorosa essa queima universal de bandeiras norte-americanas em todos os países do mundo, inclusive no próprio território dos Estados Unidos.
Lembro aquele verso exaltado de Castro Alves, no final de famoso poema: "Andrada! Arranca este pendão dos ares! Colombo! Fecha a porta dos teus mares!".
Invocando o auriverde pendão da sua terra, o poeta diz que preferiria ver a sua bandeira rota na batalha antes que servisse a um povo de mortalha. E é por aí, nessa função de mortalha, que se explica e até certo ponto se justifica a manifestação pirotécnica contra as listras e estrelas da bandeira norte-americana.
Esmagar um povo sob o pretexto de dar-lhe liberdade, de livrá-lo de um tirano, não convenceu a opinião pública de nenhuma nação civilizada. Em dezenas de países dominados por tiranos iguais, a atitude dos Estados Unidos foi a de apoio militar, econômico e político.
E, com a proximidade do fim de uma guerra absurda, ficou nítida a verdadeira motivação do massacre. O butim, embora dividido com a Inglaterra, é mesmo a segunda maior reserva de petróleo do mundo.



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