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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O mundo, o petróleo e a água

É triste saber que milhares de pessoas estão sem água no Iraque por força de uma disputa por petróleo.
Estima-se que as atuais reservas de petróleo no mundo, cerca de 1 trilhão de barris, deverão durar pelo menos pelos próximos 40 anos. O consumo é da ordem de 75 milhões de barris por dia, ou seja, 27 bilhões de barris por ano, o que representa um gasto anual de US$ 675 bilhões. Está claro que, em relação à água, a preocupação é bem menor, muito embora também seja crucial para o desenvolvimento de todos os países do globo. O gasto com água aproxima-se de US$ 165 bilhões anualmente, isto é, um quarto do que é gasto em petróleo.
Não é à toa que, dos 6,2 bilhões de habitantes da Terra, 1,2 bilhão não tem água para beber e 2,4 bilhões não contam nem sequer com saneamento seguro. Inúmeras doenças grassam devido à inexistência de água ou à sua má qualidade.
Apesar da enorme quantidade de água no planeta (13,6 bilhões de km3), 97,2% referem-se aos oceanos e 2,15% às calotas polares. Restam então para os habitantes deste planeta apenas 0,65% da água existente, sendo que 0,62% é água subterrânea, o que significa que 95% da água disponível deve ser retirada do subsolo.
A água já é um bem escasso, e a sua demanda aumenta muito mais depressa do que o crescimento da população. Na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002 na África do Sul, as nações assumiram um compromisso de aumentar em 50% a oferta de água até o ano 2015.
Para tanto, o mundo terá de ligar água a 300 mil pessoas diariamente (!), mesmo porque, ao longo dos próximos 13 anos, a população do planeta aumentará em 1 bilhão de pessoas.
O futuro está marcado. A água será o bem mais escasso para a sobrevivência dos povos. O homem terá de descobrir novas fontes de água e aprender a economizá-la.
O desperdício é enorme. O consumo de água per capita nos Estados Unidos é de aproximadamente 5.000 litros por dia. Isso é três vezes o consumo da Europa, que já é alto. No ano de 2000, em Cingapura, cada habitante dispunha de apenas 471 litros de água por dia. Na Jordânia, 381. Na Arábia Saudita, 325. Nos Emirados Árabes, 174. E no Kuait, apenas 30 litros por dia!
A China e a Índia estão preocupadas. O lençol freático baixa sistematicamente todos os anos. É uma ameaça pavorosa para dois países que possuem 2,3 bilhões de habitantes e dependem muito de irrigação.
Feliz é o Brasil, que possui 20% da água do mundo. Isso é um privilégio. Mas aqui também temos muito o que economizar. O esbanjamento começa no banho matinal dos que exageram no chuveiro, estende-se pela lavagem do carro, adentra pela limpeza da calçada e termina com as perdas dos encanamentos furados das ruas das cidades.
A água é um bem muito precioso. Temos de guardá-lo com carinho e também defendê-lo, pois não estamos livres da cobiça dos países ricos e belicosos. Hoje é o petróleo. Amanhã poderá ser a água. Hoje é o deserto do Oriente Médio. Amanhã poderá ser a bacia amazônica.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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