São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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SEM SAÍDA

Pesquisa realizada pela fundação Fórum Permanente Universidade-Empresa, a pedido da Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo, dá mais concretude às avaliações sobre a influência da realidade socioeconômica sobre os índices de criminalidade. O estudo, focado na região metropolitana de São Paulo, estabelece um evidente paralelismo entre o aumento do desemprego e a maior incidência de roubos contra pessoas em automóveis e ônibus e assaltos a pedestres.
Dos grandes centros brasileiros, São Paulo é o que mais impactos sofreu com as mudanças econômicas ocorridas nas últimas décadas. A passagem do antigo modelo industrial para uma economia menos intensiva no uso de mão-de-obra, num cenário de crise prolongada, provocou forte aceleração do desemprego na região metropolitana.
Observando-se os índices da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), verifica-se que, encerrada a década de 1980, não mais se apuram taxas de desemprego abaixo dos 10% na Grande São Paulo. Elas vão se elevando na década de 90 até atingir patamares em torno de 20% na virada do século. Estima-se em cerca de 2 milhões o número de desempregados na região metropolitana da capital.
Não é, porém, apenas a ausência de ocupação que repercute nos índices da segurança pública. O desemprego inscreve-se num contexto de graves assimetrias na distribuição de renda e de precariedade dos mecanismos de proteção social, para não mencionar o processo de decadência ética e moral que vai minando a sociedade brasileira, muitas vezes alimentado justamente por aqueles que deveriam cuidar de contê-lo.
As palavras do secretário da Segurança do Estado, Saulo de Castro, a respeito da pesquisa são desalentadoras. O estudo permite ao responsável pela Segurança considerar simplesmente "impossível", nas atuais condições, reduzir os índices de crimes contra o patrimônio.
Como o crescimento econômico permanece medíocre e a descoordenação entre os diversos níveis de governo é um fato, depreende-se das declarações do secretário que os paulistanos estão condenados a conviver não se sabe até quando com essa dramática realidade.


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