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NELSON MOTTA
Chapa-branca, tarja preta, luz vermelha
RIO DE JANEIRO - Lula sonha 24
horas por dia com uma TV pública
que não pinte a realidade de cor-de-rosa ou a distorça, como fazem as
TVs que estão no ar. A nova TV não
pode ser assim. Pode ser bem pior.
Como seria essa TV dos sonhos
de Lula? O que ele gostaria de ver
que ainda não exista? A Tribuna
Sindical? O Show dos Oprimidos? O
BBB dos sem-terra? Que opções de
informação e entretenimento faltam nas atuais TVs privadas e estatais que só ela poderá oferecer? O
público é ingrato: entre as mínimas
audiências da esforçada TV Cultura, as maiores são de desenhos animados, todos estrangeiros.
Como os melhores profissionais
da televisão brasileira estão nas
emissoras privadas, porque pagam
melhor e dão melhores condições
de trabalho, quem vai fazer a nova
TV? Não bastam ideologia e boa
vontade, além de verbas públicas,
para fazer uma BBC.
É uma pena que a emissora ainda
não esteja no ar para que se pudesse
acompanhar uma cobertura isenta
da crise aérea. Não ficaríamos à
mercê das mentiras e do sensacionalismo das emissoras comerciais e
da grande imprensa, ampliando a
crise para prejudicar o governo Lula e os companheiros controladores
de vôo.
Teríamos imagens alternativas às
cenas dantescas dos aeroportos, veríamos os seis meses de esforços do
governo, ouviríamos os comentários de Zé Dirceu. Waldir Pires poderia expor, em rede nacional, suas
idéias geniais sobre os problemas
da aviação civil e da defesa nacional.
Mas quem veria?
Ver ou não ver, eis a questão-chave da televisão. Quando Lula diz
que "não interessa se der meio ou
zero de audiência", é uma bravata
que nos sai cara: se ninguém vê, é
dinheiro público no lixo.
Mas, com a nova TV, virá a democratização da informação: todos poderão não vê-la.
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