São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2007

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JOSÉ SARNEY

A FAB e João Paulo 2º

O TEMA religioso se impõe na Quaresma. Não sei qual é o santo protetor dos controladores de vôo, senão pediríamos a todos invocá-lo nesta hora, em que tantos e tão acumulados erros foram cometidos. Louvemos a beata FAB brasileira, que cumpre exemplarmente seu dever em meio a tantas dificuldades, a começar pelo pioneirismo do Correio Aéreo Nacional, passando pelo heroísmo do "Senta a Pua", da Segunda Guerra Mundial, até o tremendo desafio de zelar pelo espaço aéreo de um país de tão grande dimensão, cobrindo as deficiências com a coragem, o patriotismo e o sacrifício de seus homens.
O choro e o desespero mais sentido e profundo que já presenciei na minha vida foi da viúva do coronel Fernandes, que trabalhara comigo, vítima de um trágico acidente aéreo, quando o sepultamos no jazigo dos aviadores do Cemitério São João Batista. Na sua dor, eu testemunho o heroísmo e o sofrimento de quantos lutaram pela formação de sua força, usando, experimentando e criando nova tecnologia na conquista de voar.
Mas hoje, Sexta-Feira da Paixão, quero é pedir que o papa Bento 16 não só beatifique mas consagre aquilo que ele é -conquistado pela sua vida, marcada até mesmo pelo sofrimento final: santo João Paulo 2º. Um santo de todas as religiões, pois por todas trabalhou, na busca da unidade e da convivência, para que a vida na Terra fosse de paz e fraternidade entre os homens.
Esse ritual de longo processo, de burocratização de uma decisão de santidade aferida por milagres é do tempo da igreja medieval, quando os papas eram eleitos por força política e compra de votos, numa função mais temporal que espiritual. Há milagre maior do que João Paulo 2º ter acabado com a confrontação ideológica, evitado a destruição nuclear do mundo? Qual foi o processo e quais foram os milagres de Pedro, João, Bartolomeu?
Curas como prova de santidade é um anacronismo que, hoje, não convence nenhum cristão, a não ser o "advogado do diabo". No sepultamento do papa João Paulo 2º, ouvi a multidão gritar: "Santo", "Santo", "Santo súbito".
Se fosse por curas, os maiores santos do nosso tempo seriam Fleming, descobridor da penicilina, Salk e Sabin, das vacinas contra a poliomielite.
Santidade não se prova. Existe. É algo maior que a matéria, é a transcendência na encarnação divina. Santa é irmã Dulce, com a sua bondade e a sua vida.
Santo é João Paulo 2º, o santo do século. Que o papa Bento 16 rompa com essa inibição burocrática e faça o que Deus já fez, o santo João Paulo 2º, ou o João de Deus.


jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY
escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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