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JOSÉ SARNEY
A FAB e João Paulo 2º
O TEMA religioso se impõe na
Quaresma. Não sei qual é o
santo protetor dos controladores de vôo, senão pediríamos a
todos invocá-lo nesta hora, em que
tantos e tão acumulados erros foram cometidos. Louvemos a beata
FAB brasileira, que cumpre exemplarmente seu dever em meio a
tantas dificuldades, a começar pelo
pioneirismo do Correio Aéreo Nacional, passando pelo heroísmo do
"Senta a Pua", da Segunda Guerra
Mundial, até o tremendo desafio de
zelar pelo espaço aéreo de um país
de tão grande dimensão, cobrindo
as deficiências com a coragem, o
patriotismo e o sacrifício de seus
homens.
O choro e o desespero mais sentido e profundo que já presenciei
na minha vida foi da viúva do coronel Fernandes, que trabalhara comigo, vítima de um trágico acidente aéreo, quando o sepultamos no
jazigo dos aviadores do Cemitério
São João Batista. Na sua dor, eu
testemunho o heroísmo e o sofrimento de quantos lutaram pela
formação de sua força, usando, experimentando e criando nova tecnologia na conquista de voar.
Mas hoje, Sexta-Feira da Paixão,
quero é pedir que o papa Bento 16
não só beatifique mas consagre
aquilo que ele é -conquistado pela
sua vida, marcada até mesmo pelo
sofrimento final: santo João Paulo
2º. Um santo de todas as religiões,
pois por todas trabalhou, na busca
da unidade e da convivência, para
que a vida na Terra fosse de paz e
fraternidade entre os homens.
Esse ritual de longo processo, de
burocratização de uma decisão de
santidade aferida por milagres é do
tempo da igreja medieval, quando
os papas eram eleitos por força política e compra de votos, numa função mais temporal que espiritual.
Há milagre maior do que João
Paulo 2º ter acabado com a confrontação ideológica, evitado a destruição nuclear do mundo? Qual
foi o processo e quais foram os milagres de Pedro, João, Bartolomeu?
Curas como prova de santidade é
um anacronismo que, hoje, não
convence nenhum cristão, a não
ser o "advogado do diabo".
No sepultamento do papa João
Paulo 2º, ouvi a multidão gritar:
"Santo", "Santo", "Santo súbito".
Se fosse por curas, os maiores santos do nosso tempo seriam Fleming, descobridor da penicilina,
Salk e Sabin, das vacinas contra a
poliomielite.
Santidade não se prova. Existe. É
algo maior que a matéria, é a transcendência na encarnação divina.
Santa é irmã Dulce, com a sua bondade e a sua vida.
Santo é João Paulo 2º, o santo do
século. Que o papa Bento 16 rompa
com essa inibição burocrática e faça o que Deus já fez, o santo João
Paulo 2º, ou o João de Deus.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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