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Deus salve as criancinhas
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O Brasil tem pouco mais de
30 milhões de jovens entre 15 e 24
anos, com uma taxa de mortalidade
anual de 140 em cada cem mil (que é
alta). Mais de dois terços (em torno de
70% dos mortos) são vítimas de "causas externas". Leia-se: de morte violenta. Assassinatos, por exemplo.
Os dados constam do "Mapa da Violência: Os Jovens do Brasil", de Jacobo
Waiselfisz, coordenador de Desenvolvimento Social da Unesco no país. E
servem como gancho para uma pergunta: o que aconteceu com o programa de garantia de renda mínima?
Foi o que o senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) perguntou ao MEC. Resposta:
nada, nenhum convênio foi feito.
O programa garante uns trocados
para famílias pobres, de municípios
pobres, que consigam pura e simplesmente manter suas crianças na escola.
Tem custo baixo e efeito social alto.
Inclusive contra a violência.
A lei que o criou (9.533) foi inspirada em experiências de inúmeros municípios e do Distrito Federal. Aprovada pelo Congresso, foi sancionada em
10 de dezembro de 1997 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Que,
aliás, a chamou de "revolucionária".
Tanto, mas tanto, que o governo deve ter tido medo. Lá se vão um ano e
quatro meses e, segundo ofício enviado para Suplicy pelo ministro Paulo
Renato Souza, nenhum município foi
até agora beneficiado por ela.
No início, o governo falava em R$
300 milhões por ano. Depois, admitiu
R$ 100 milhões. No final, fechou a
conta: zero em 1998. Justificativa: parte dos municípios perdeu o prazo para
se habilitar; o resto apresentou "inconsistências" nos planos de trabalho.
Dançaram todos, crianças inclusive.
O MEC promete os 20 primeiros convênios para este mês. Só que a coisa
pega embaixo (nos municípios desatentos) e em cima (naqueles até do
Planalto que acham tudo isso inócuo e
condenam o "assistencialismo").
Para empregar R$ 100 milhões e salvar criancinhas da violência e da rua
da amargura, o governo esbarra na
burocracia e na má vontade. Ao destinar R$ 1,5 bi para salvar bancos da
falência, encontrou o caminho livre.
Tem algo errado aí.
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