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BORIS FAUSTO
Lula e os riscos
O sinal de alarme tocado por algumas instituições financeiras
internacionais, em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, colocou na ordem do dia a questão das
consequências de uma eventual vitória do candidato petista.
Em primeiro lugar, é preciso distinguir uma análise ditada pelos interesses do país daquela formulada por instituições financeiras. Estas, por sua
natureza, e não por alguma maldade
intrínseca, voltam-se para a avaliação
de risco e segurança dos investimentos que promovem.
Nessa perspectiva, o que mais lhes
interessa é a estabilidade interna de
um país, o equilíbrio de suas contas
fiscais e externas, como fatores indicativos de que seus compromissos, tanto
públicos quanto privados, serão cumpridos. Outros fatores, que no nosso
caso são de importância central -como a preservação da democracia, a redução das desigualdades sociais-,
são vistos, nessa ótica, como relativamente secundários.
A diferença de perspectiva não significa, entretanto, que podemos nos
dar ao luxo de ignorar o sinal amarelo.
O próprio sinal representa um sintoma preocupante, pois revela os riscos
que pairam sobre o financiamento da
dívida e a entrada de novos investimentos, ambos indispensáveis para a
estabilidade interna e o crescimento.
Muito do avanço da candidatura Lula, nas pesquisas recentes, tem a ver
com sensações afetivas e emocionais.
Na medida em que o radicalismo de
Lula e da corrente majoritária do partido parecem ser coisa do passado,
cresceram outros elementos de percepção: a origem do candidato, a insistência genérica nos temas sociais, a
maior consistência comparativa do
Partido dos Trabalhadores.
Mas, como se tem destacado, Lula
quase sempre não passa do nível das
generalidades, tocando em problemas
que são uma unanimidade nacional.
Quando escapa das generalidades, diz
coisas que mostram seu desconhecimento de como funciona a economia
de um país. Não vou insistir nos
exemplos, pois eles são conhecidos.
No plano das relações internacionais, tudo se resume a alguns slogans
contra a hegemonia americana, sem
tentar enfrentar a questão central: a
política do atual governo brasileiro,
no sentido de abrir espaços à presença
do país no mundo e afirmar, ao mesmo tempo, sua autonomia, deveria ser
alterada? O entusiasmo de Lula, desde
a primeira hora, por Hugo Chávez e as
simpatias por Fidel Castro não dão
margem a muitas esperanças de um
comportamento que saiba dosar firmeza, equilíbrio e bom senso.
Em mais de 20 anos, Lula cresceu em
verbalização, em imagem bem comportada, em capacidade de jogar o jogo da picardia política, mas não conseguiu avançar -ou melhor, não quis
avançar- na compreensão das questões fundamentais do país. O problema nada tem a ver com sua origem
popular, pois oportunidades, em todos esses anos, não lhe faltaram.
Essas constatações indicam que a
candidatura de Lula representa um
risco? É preciso afirmar, com todas as
letras, que sim; sem temer críticas e incompreensões. O jogo eleitoral ainda
vai dar muitas voltas e, quem sabe, reviravoltas, mas é tempo de começar a
dar nome aos bois.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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