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ELIANE CANTANHÊDE
Menem lá, Kirchner cá
BRASÍLIA - Menem não gosta de Lula, e Lula tem horror a Menem.
Ainda bem, porque o ex-presidente
(89-99) tem um currículo duvidoso e
foi o principal responsável pela crise
econômica argentina com aquela
maluquice das "relações carnais"
com os EUA e a política mais maluca
ainda de um peso igual a um dólar.
Quando Menem diz que, se perder
as eleições vai se dedicar a "ser pai",
só nós resta torcer para que isso dê
certo e ele possa cumprir o desejo de
cuidar do filho que espera com a ex-miss Universo Cecília Bolloco.
Lula e Menem são o oposto um do
outro: um se diz "do povo", o outro
adora os salamaleques (e as estrelas
femininas) do jet-set internacional;
um se fez na política e na vida sacudindo em pau-de-arara, em comícios
de sindicatos e em viaturas de polícia
política. O outro subiu na vida à custa de histórias mal contadas com dinheiro público e vive às voltas com a
Receita e com a polícia criminal.
Nas eleições de 1994, o candidato
Lula deu uma cotovelada em Menem. Nas eleições de 1998, recebeu o
troco quando Menem declarou abertamente simpatia por FHC. E vai por
aí afora, de eleição em eleição, de declaração em declaração.
Daí por que ninguém estranha a
torcida de Lula e de seu governo pelo
adversário de Menem, Néstor Kirchner, no segundo turno, no próximo
dia 18. Mas torcida não deve se confundir com envolvimento. Muito menos envolvimento em ingerência em
assuntos de outros países.
Não é bom, por exemplo, o presidente brasileiro receber um candidato, e não o outro. Ontem, o Itamaraty
parecia constrangido e nem queria
confirmar o encontro Lula-Kirchner
na quinta. O Planalto, porém, confirmava e quase comemorava.
Tudo bem que Kirchner seja favorito e que Menem esteja muito atrás
-além de ser o que é. Mas ninguém
sabe muito desse Kirchner, e receber
apenas um candidato às vésperas de
segundo turno parece um ato passional e imprudente. Em diplomacia, é
preciso sangue-frio e prudência.
Aliás, quem diz não sou eu. São os
"do ramo": os próprios diplomatas.
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