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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Menem lá, Kirchner cá

BRASÍLIA - Menem não gosta de Lula, e Lula tem horror a Menem.
Ainda bem, porque o ex-presidente (89-99) tem um currículo duvidoso e foi o principal responsável pela crise econômica argentina com aquela maluquice das "relações carnais" com os EUA e a política mais maluca ainda de um peso igual a um dólar.
Quando Menem diz que, se perder as eleições vai se dedicar a "ser pai", só nós resta torcer para que isso dê certo e ele possa cumprir o desejo de cuidar do filho que espera com a ex-miss Universo Cecília Bolloco.
Lula e Menem são o oposto um do outro: um se diz "do povo", o outro adora os salamaleques (e as estrelas femininas) do jet-set internacional; um se fez na política e na vida sacudindo em pau-de-arara, em comícios de sindicatos e em viaturas de polícia política. O outro subiu na vida à custa de histórias mal contadas com dinheiro público e vive às voltas com a Receita e com a polícia criminal.
Nas eleições de 1994, o candidato Lula deu uma cotovelada em Menem. Nas eleições de 1998, recebeu o troco quando Menem declarou abertamente simpatia por FHC. E vai por aí afora, de eleição em eleição, de declaração em declaração.
Daí por que ninguém estranha a torcida de Lula e de seu governo pelo adversário de Menem, Néstor Kirchner, no segundo turno, no próximo dia 18. Mas torcida não deve se confundir com envolvimento. Muito menos envolvimento em ingerência em assuntos de outros países.
Não é bom, por exemplo, o presidente brasileiro receber um candidato, e não o outro. Ontem, o Itamaraty parecia constrangido e nem queria confirmar o encontro Lula-Kirchner na quinta. O Planalto, porém, confirmava e quase comemorava.
Tudo bem que Kirchner seja favorito e que Menem esteja muito atrás -além de ser o que é. Mas ninguém sabe muito desse Kirchner, e receber apenas um candidato às vésperas de segundo turno parece um ato passional e imprudente. Em diplomacia, é preciso sangue-frio e prudência.
Aliás, quem diz não sou eu. São os "do ramo": os próprios diplomatas.


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