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CLÓVIS ROSSI
Uma questão de decência
SÃO PAULO - A cúpula do PT, com o inestimável auxílio daquela parte da
mídia que é governo seja qual for o
governo, conseguiu transformar o caso dos mal chamados radicais do
partido em uma questão de disciplina e de opinião. Não é. É de decência
política.
Vejamos apenas um caso, o da deputada Luciana Genro (RS). Essa
moça é petista literalmente desde
criancinha. Ou, mais precisamente,
desde os 14 anos. Está no PT há 18
anos. Tem mais tempo de petista do
que de brincar de roda.
Suponho que tenha cantado loucamente o "Lula-lá" ou outro refrão
das campanhas presidenciais do partido. Suspeito que tenha brigado na
escola em defesa da sua estrela tanto
contra os preconceituosos que são
contra o PT pelas qualidades do partido como contra os que legitimamente se opõem ao PT pelos seus inúmeros defeitos.
É essa moça que está agora ameaçada de expulsão pelo único e indecente motivo de querer continuar
sendo o que sempre foi. Nunca lhe
disseram, até agora, que estava errada, que suas idéias não eram as
idéias do PT. Ao contrário, usaram-na sempre, a ponto de dar a ela lugar
na lista de candidatos a deputado federal na eleição do ano passado,
quando ela dizia o que continua a dizer hoje.
Talvez ela -e todos os outros mal
chamados radicais- esteja errada.
Acho até que cometem de fato alguns
equívocos graves. Mas são os equívocos que toda a cúpula do PT cometia
até ontem, a começar pelo presidente
da República.
Se a cúpula, inebriada pelo poder
ou assustada pelos mercados, mudou
de idéia, quem deve explicações é
quem mudou de idéia, não quem defende o que sempre defendeu.
As reformas, pretexto para a eventual expulsão, são circunstanciais por
definição. A decência política que está sendo violada é para sempre.
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