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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Uma questão de decência

SÃO PAULO - A cúpula do PT, com o inestimável auxílio daquela parte da mídia que é governo seja qual for o governo, conseguiu transformar o caso dos mal chamados radicais do partido em uma questão de disciplina e de opinião. Não é. É de decência política.
Vejamos apenas um caso, o da deputada Luciana Genro (RS). Essa moça é petista literalmente desde criancinha. Ou, mais precisamente, desde os 14 anos. Está no PT há 18 anos. Tem mais tempo de petista do que de brincar de roda.
Suponho que tenha cantado loucamente o "Lula-lá" ou outro refrão das campanhas presidenciais do partido. Suspeito que tenha brigado na escola em defesa da sua estrela tanto contra os preconceituosos que são contra o PT pelas qualidades do partido como contra os que legitimamente se opõem ao PT pelos seus inúmeros defeitos.
É essa moça que está agora ameaçada de expulsão pelo único e indecente motivo de querer continuar sendo o que sempre foi. Nunca lhe disseram, até agora, que estava errada, que suas idéias não eram as idéias do PT. Ao contrário, usaram-na sempre, a ponto de dar a ela lugar na lista de candidatos a deputado federal na eleição do ano passado, quando ela dizia o que continua a dizer hoje.
Talvez ela -e todos os outros mal chamados radicais- esteja errada. Acho até que cometem de fato alguns equívocos graves. Mas são os equívocos que toda a cúpula do PT cometia até ontem, a começar pelo presidente da República.
Se a cúpula, inebriada pelo poder ou assustada pelos mercados, mudou de idéia, quem deve explicações é quem mudou de idéia, não quem defende o que sempre defendeu.
As reformas, pretexto para a eventual expulsão, são circunstanciais por definição. A decência política que está sendo violada é para sempre.


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