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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Assalto à classe média

JORGE BORNHAUSEN

Artistas de TV, médicos, dentistas, advogados, jornalistas, trabalhadores que se tornam "pessoas jurídicas", como se diz, constituindo empresas de prestação de serviços para melhor explorar suas habilidades profissionais, estão ameaçados por um aumento de 167% -cen-to-e-ses-sen-ta-e-se-te-por-cen-to, assim, silabados, para escandalizar- da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), que recolhem trimestralmente aos cofres do governo.
Trata-se de um dos apêndices discretamente inseridos pelo PT na medida provisória nš 107, que reabre os prazos do Refis -refinanciamento de débitos junto à Receita Federal, Fazenda Nacional e INSS- e amplia o número de categorias de empresas que podem recolher seus tributos pelo Simples.
O PFL, em nome da oposição e com o honroso apoio de numerosos parlamentares de outros partidos solidários à nossa indignação, está denunciando o absurdo e agindo para evitar que se torne lei esse grosseiro assalto a um importante segmento da classe média.
Há interpretações divergentes sobre a motivação e os efeitos de mais um episódio da fúria arrecadatória (quase escrevi predatória, mas preciso ser objetivo) do governo, que esqueceu seus compromissos e ideologia para adotar o princípio simplório e temerário de que governar é arrecadar impostos.
Alguns analistas vêem em tudo isso uma fixação suicida da esquerda brasileira, que, embora em sua maioria absoluta seja originária da classe média, cultiva ódio anacrônico à classe média, ao que continuam chamando de "pequena burguesia" do jargão comunista, como se dela não fizessem parte.
Para os que não acreditam em maquiavelismos ideológicos e preferem interpretações práticas, esse aumento de impostos sobre prestadores de serviço é um desastre, pois contribuirá para aumentar a carga tributária. Ao elevar os tributos do setor de serviços, vai onerar todo tipo de produto que tenha na composição do seu custo serviços prestados por terceiros, do jornal ou assinatura de TV aos alimentos e ao automóvel. E aumentar impostos num país em que a carga tributária já superou os 36% é desestimular expectativas de desenvolvimento e fomentar a sonegação. E dizer que tal procedimento parte de um governo que vive prometendo aos brasileiros "retomar o crescimento"!


Aumentar impostos num país em que a carga tributária já superou 36% é desestimular expectativas de desenvolvimento


Tenha sido intencional, erro de avaliação ou mesmo desinformação, a monstruosidade desse aumento de 167% deve não apenas ser obstaculizada no Congresso, mas transformada em modelo de ação oposicionista contra o abuso que se faz das medidas provisórias, cuja tramitação na Câmara está sendo feita sumariamente, sem que as comissões especiais se reúnam para as analisar. No entanto, quando a medida provisória é colocada na ordem do dia e chega ao plenário para votação, o relator se levanta e, geralmente de improviso, apresenta a sua proposta, o seu o projeto de lei de conversão. Trata-se da versão que terá a medida provisória ao se transformar em lei.
Assim, de repente, em cima da hora, o Congresso é surpreendido com um texto que não foi discutido nem votado na comissão e os deputados têm de votá-lo improvisadamente. Aqui cabe a lembrança de que depois de 60 dias em ter sido votada, a MP tranca a pauta do Congresso e nada se vota sem que ela seja apreciada. Imagine, então, o clima de emergência dessas votações das MPs.
No caso da medida provisória 107, o relator, deputado Professor Luisinho, do PT, transformou radicalmente o texto original. Criou um monstrengo. Aumentou para 4% a Cofins das entidades financeiras, que não reclamaram porquanto repassarão seus custos aos clientes, sufocando ainda com maiores juros o setor produtivo, e o absurdo da passagem da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das empresas do setor de serviços de 12% para 32%, o que onerará profundamente um segmento importante da classe média brasileira.
Embora a responsabilidade individual seja do relator, não há dúvida quanto à inspiração do projeto de conversão da MP 107 -na verdade, apenas um instrumento do governo do PT no seu desvario arrecadatório para aumentar o caixa.

Jorge Bornhausen, 65, senador pelo PFL de Santa Catarina, é o presidente nacional do partido.


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