São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Derrotas

BRASÍLIA - O arquivamento da MP dos Bingos, por 32 a 31 votos, comprova o que já se falava dentro e fora do Planalto: o governo está à deriva no Senado.
Está sem líderes, porque Mercadante (do governo) não tem autoridade nem a confiança dos demais senadores e Ideli Salvatti (do PT) é neófita e tem de berrar para ser ouvida.
Além disso, José Sarney continua sendo badalado como o aliado decisivo, mas nessas horas costuma lavar as mãos. E quem realmente se movimenta, que é o líder do PMDB, Renan Calheiros, está na muda. Enquanto o governo não cumprir o trato de deixá-lo substituir Sarney na presidência da Casa, finge que não é com ele. Deixa o pau quebrar.
É claro que, numa votação assim, em que pesam interesses variados, até econômicos, nem sempre o governo ganha. Mas os avisos já vinham antes, em outro tipo de votação: a contratação de funcionários para o governo, por exemplo, só passou por três votos. Era sinal amarelo, ninguém viu. Ontem foi sinal vermelho.
Isso tudo acirra a discussão sobre a aprovação ou não da reeleição de Sarney no Senado e de João Paulo Cunha na Câmara. E reforça o cenário em que José Dirceu vai fazendo os exercícios direitinho no Planalto, esquentando os músculos para voltar ao Congresso por cima, presidindo a Câmara. Ou seja: "Para dar ordem à bagunça".
E a bagunça já está se configurando um fato. Além da derrota da MP, o governo levou outro safanão no Congresso ontem, com a instalação da comissão mista de senadores e deputados que vai discutir o novo mínimo do mínimo. Um monte de oposicionistas, todos cobras criadas. O único petista é Paulo Paim -aquele que faz de um bom aumento do mínimo sua grande bandeira de campanha durante anos e anos. E agora?
Ou seja: boa coisa não vai dar, pelo menos para o governo. Se der boa coisa, deve ser para os mais de 20 milhões que ganham o mínimo. O governo está acuado no Congresso, especialmente no Senado. Tem de reagir enquanto é tempo.


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