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ELIANE CANTANHÊDE
Derrotas
BRASÍLIA - O arquivamento da MP
dos Bingos, por 32 a 31 votos, comprova o que já se falava dentro e fora do
Planalto: o governo está à deriva no
Senado.
Está sem líderes, porque Mercadante (do governo) não tem autoridade
nem a confiança dos demais senadores e Ideli Salvatti (do PT) é neófita e
tem de berrar para ser ouvida.
Além disso, José Sarney continua
sendo badalado como o aliado decisivo, mas nessas horas costuma lavar
as mãos. E quem realmente se movimenta, que é o líder do PMDB, Renan Calheiros, está na muda. Enquanto o governo não cumprir o trato de deixá-lo substituir Sarney na
presidência da Casa, finge que não é
com ele. Deixa o pau quebrar.
É claro que, numa votação assim,
em que pesam interesses variados,
até econômicos, nem sempre o governo ganha. Mas os avisos já vinham
antes, em outro tipo de votação: a
contratação de funcionários para o
governo, por exemplo, só passou por
três votos. Era sinal amarelo, ninguém viu. Ontem foi sinal vermelho.
Isso tudo acirra a discussão sobre a
aprovação ou não da reeleição de
Sarney no Senado e de João Paulo
Cunha na Câmara. E reforça o cenário em que José Dirceu vai fazendo os
exercícios direitinho no Planalto, esquentando os músculos para voltar
ao Congresso por cima, presidindo a
Câmara. Ou seja: "Para dar ordem à
bagunça".
E a bagunça já está se configurando
um fato. Além da derrota da MP, o
governo levou outro safanão no Congresso ontem, com a instalação da comissão mista de senadores e deputados que vai discutir o novo mínimo
do mínimo. Um monte de oposicionistas, todos cobras criadas. O único
petista é Paulo Paim -aquele que
faz de um bom aumento do mínimo
sua grande bandeira de campanha
durante anos e anos. E agora?
Ou seja: boa coisa não vai dar, pelo
menos para o governo. Se der boa coisa, deve ser para os mais de 20 milhões que ganham o mínimo. O governo está acuado no Congresso, especialmente no Senado. Tem de reagir enquanto é tempo.
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