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CARLOS HEITOR CONY
Política faz mal à saúde
RIO DE JANEIRO - Política é letal como a câmara de gás, a cadeira elétrica, a forca e a empada que matou o
guarda. Gosto de reler Lima Barreto
e, outro dia, reparei a distinção que
ele faz entre a cultura, a economia e a
política. Seu melhor personagem, Policarpo Quaresma, paga tributo às
três principais expressões da atividade humana.
Na primeira delas, Policarpo descobre que o brasileiro deveria falar tupi-guarani, língua nativa, jamais o
português, idioma do colonizador.
Não morre por causa disso, mas cobre-se de opróbrio e de ridículo, ninguém o leva a sério.
Desiludido do fato cultural, ele se
volta para a economia e torna-se fanático pela agricultura. Acredita em
Pero Vaz de Caminha e começa a
plantar, torna-se a primeira consciência ecológica do país, mas as saúvas acabam com tudo o que sonhou e
plantou.
Ridicularizado culturalmente, arruinado economicamente, ele se volta para a política, envia aquele célebre telegrama ao presidente da República pedindo "energia" e avisando
"sigo já!" para se alistar nas tropas
leais a Floriano Peixoto.
Dessa vez, quebrou a cara e perdeu
a vida. É fuzilado. Não que a sua causa estivesse errada. Simplesmente as
coisas e as causas mudaram. Como se
sabe, política é como nuvem, está assim e, de repente, fica assado, sem
ninguém saber direito por quê. Ele
continuou o mesmo.
Oliveira Lima considerou Policarpo
Quaresma o Dom Quixote nacional.
Discordo. O Cavaleiro da Triste Figura enlouqueceu lendo livros de cavalaria. Policarpo não ficou louco, pelo
contrário, tinha uma lucidez atroz. A
loucura não era dele, mas dos outros.
Dos entendidos em cultura, economia e política.
Acontece que o preço pago por ele
sofreu gradual reajuste tarifário. Culturalmente, ficou desprezado. Economicamente, perdeu tudo. Politicamente, foi morto.
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